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Cyro Laurenza

Patrimônio histórico em decadência física

Será que fomos condenados a viver entre ruínas?

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Cyro Laurenza, presidente do Conpresp - Adriano Vizoni - 17.dez.17/Folhapress
Cyro Laurenza

Para cuidar do patrimônio histórico da cidade de São Paulo existem dois setores independentes: o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e o DPH (Departamento de estudos técnicos do Patrimônio Histórico), locados na Secretaria Municipal de Cultura.

Juntos, eles têm o objetivo de preservar a história da vida de nossos primitivos moradores em seus usos e costumes à luz da arqueologia e dos processos da criação humana, representados por ocupações étnicas de imigrantes que deixaram marcas em nossa evolução política e social, com exemplos significativos de suas realizações.

No desenvolvimento dessa responsabilidade, esses órgãos enfrentam questionamentos de alguns setores da sociedade em relação às resoluções adotadas --além da defesa intransigente do ato de tombar, mesmo que o bem esteja em condições deploráveis, sem perspectivas de restauração imediata, o que só acarretará destruição ao longo do tempo.

Um dos grandes mestres sobre o tema, arquiteto Carlos Lemos, ensina que "a valorização do patrimônio só pode ocorrer socialmente quando a comunidade, onde o bem cultural está inserido, ("¦) entenda que ele é relevante para contar sua história e construir sua identidade". 

Pois bem: para representar essa sociedade existem conselhos apoiados por técnicos em patrimônio. Conpresp, Condephaat, do Estado de São Paulo, e Iphan, órgão federal, representam o todo, tendo como parâmetros políticas públicas definidas por governos e comunidade.

Atingir consensos quanto aos bens a preservar é tarefa complexa. Cada classe social, cada grupo econômico, cada indivíduo seleciona elementos culturais de seu interesse.

Em um país como o Brasil, formado por uma população de imigrantes, não existe identidade nacional coesa, nem mesmo uma só memória coletiva. E não há unanimidade na população para dar sentido e legitimidade aos valores apontados por especialistas nas coisas ligadas à memória, à história e às artes em geral. Mas será que fomos condenados a viver entre ruínas ou, ainda mais triste, testemunhar as cinzas do nosso patrimônio?

No planejamento público destacam-se a prefeitura e o estado com crescente participação popular, sendo que a iniciativa privada pode trazer tecnologias e investimentos, formando o tripé de resoluções que capacitará nossas ações no preservar e restaurar o patrimônio histórico.

Temos que ter consciência de que a salvação do centro de São Paulo requer ações de políticas públicas de longa duração, e seus protagonistas devem reconhecer que essa recuperação ultrapassa tempos políticos. 

A revitalização da região central passa pela preservação e restauração do nosso patrimônio histórico de forma sistêmica, dando novos usos aos bens deteriorados, abrigando nosso déficit habitacional, oferecendo locais ao setor de serviços, criando espaços de confortável convivência. Resta dar início a essa ação, sem mais demora.

Cyro Laurenza

Presidente do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo)

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