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Pobreza intelectual

Ministro Guedes repete em Davos argumento velho contra preservação de florestas

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, em Davos - Ciaran McCrickard/World Economic Forum

Qualquer personagem público bem informado sabe que o tema ambiental se tornou obrigatório no Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça). Talvez por isso o presidente Jair Bolsonaro se tenha esquivado de comparecer, neste ano, após a péssima repercussão do discurso de 2019 na abertura da Assembleia Geral da ONU.

Bolsonaro enviou ao encontro, entretanto, seu principal ministro. O titular da Economia, Paulo Guedes, embora poupado de maiores pressões acerca do meio ambiente, se precipitou a rivalizar com o presidente americano, Donald Trump, em matéria de pronunciamentos ecologicamente incorretos.

Ambos os governos trabalham para minar a coordenação de países para limitar a mudança climática. Os EUA abandonaram o Acordo de Paris (2015), e o Brasil viu o desmatamento na Amazônia —sua maior fonte de poluição climática— disparar 29,5% no período 2018/19, resultado do discurso antiambiental de Bolsonaro.

O cerne das convicções presidenciais reside na ideia ultrapassada de que países ricos querem impedir o desenvolvimento do Brasil quando defendem a floresta. Guedes ecoou essa visão ao dizer, em Davos, que “o pior inimigo da natureza é a pobreza” e que “as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”.

Ao reeditar tal raciocínio, presidente e ministro retrocedem meio século em mentalidade. Em 1972, na primeira conferência mundial sobre ambiente, em Estocolmo, a primeira-ministra indiana Indira Gandhi afirmara que “o maior poluidor é a pobreza”, lugar-comum secundado pela delegação brasileira.

Nos 48 anos transcorridos desde então, o debate evoluiu para dissociar crescimento econômico de devastação e poluição, produzindo o conceito de desenvolvimento sustentável. Se há no Planalto quem estacionou no tempo, há também quem enxergue no presente o óbvio, como a ministra da Agricultura.

Tereza Cristina, sabedora do prejuízo para a imagem do agronegócio trazido pelo desmonte das políticas de preservação, rebateu Guedes dizendo que não é preciso desmatar para produzir alimentos, basta aumentar a produtividade.

Qualquer pessoa ou autoridade bem informada, no Brasil, sabe que os principais causadores de desmatamento são os grileiros, não o agricultor pobre. E que eles não derrubam a floresta para comer, mas para locupletar-se de terras públicas sem governo nem lei.

editoriais@grupofolha.com.br

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