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Biden e o Brasil

Bolsonarismo teme derrota de Trump, mas rival democrata mostrou ser pragmático

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O candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, responde a perguntas da imprensa durante evento em Wilmington, em Delaware
O candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, responde a perguntas da imprensa durante evento em Wilmington, em Delaware - Kevin Lamarque - 30.jun.20/Reuters

Na sexta-feira passada (3), a campanha reeleitoral de Donald Trump postou em rede social uma mensagem prometendo que, sob o olhar do presidente americano, o Cristo Redentor estaria a salvo.

Seria apenas patético inserir o monumento carioca na discussão sobre a derrubada de estátuas ligadas a passados hoje politicamente incorretos nos EUA, ante ameaça de uma suposta “esquerda radical”.

A mensagem, todavia, diz muito sobre a relação Brasil-EUA após um ano e meio de genuflexão sem precedentes por parte do Planalto.

No dia seguinte, data da independência americana, estavam o presidente Jair Bolsonaro e comitiva numa deslocada confraternização em tempos de pandemia na embaixada dos EUA em Brasília.

Em tal cenário, a ascensão do ex-vice-presidente Joe Biden ao posto de favorito na disputa contra Trump, na eleição de novembro, levanta dúvidas sobre os já parcos dividendos de tal proximidade.

Porque não bastou ao Itamaraty jurar aliança com Washington: a política externa encarna a identificação do bolsonarismo com Trump. Com isso, adversários do republicano convertem-se em inimigos do Planalto, ao menos na fantasia dos ideólogos de plantão.

Biden já tocara num dos pontos arruinados da imagem externa brasileira em março. “O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, então meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido”, disse.

Noves fora a bravata internacionalista, não parece um começo promissor para o Brasil caso o democrata venha mesmo a se eleger.

Biden, contudo, é um pragmático. Pode ser menos arestoso que Trump na relação com a China, mas a rivalidade estratégica entre as duas maiores economias no mundo seguirá, a despeito de quem estiver ocupando a Casa Branca.

Assim, ter um aliado regional de relevo longe dos interesses de Pequim, que são muitos, fará sentido.

Talento para refazer pontes Biden tem: foi sua ação pessoal que mitigou o afastamento de Dilma Rousseff dos EUA, após a presidente ser espionada pelos americanos.

Se conseguir ultrapassar a visão binária das relações internacionais, talvez seja possível ao governo Bolsonaro compor com os EUA sob Biden. Parece difícil, porém, confiar na racionalidade do grupo ora dirigente. O Cristo Redentor tende a seguir passando vergonha.

editoriais@grupofolha.com.br

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