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Beatriz Borges Brambilla

Um manifesto pela pluralidade humana

Psicologia molda-se ao tempo, convidando todos a repensar as relações sociais

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Beatriz Borges Brambilla

Doutora em psicologia social, é presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

Nesta quinta-feira (27) comemoramos 58 anos da regulamentação da profissão de psicólogo no país. A psicologia, como a maioria das ciências e profissões, expressa os próprios movimentos da sociedade: quando a sociedade se transforma, as profissões também mudam.

Neste mais de meio século de profissão regulamentada, seguimos percursos muito distintos. Estamos nas mais diversas áreas, em clínicas e consultórios; nas organizações e instituições; nas políticas públicas —saúde, assistência social, educação, trabalho e renda, moradia e habitação, cultura, esporte e lazer—; nos direitos humanos; na igualdade racial; e atendendo crianças e adolescentes, mulheres, LGBTQIA+, pessoas com deficiências e idosos. Buscamos fazer da psicologia uma profissão para todos, em que caibam as diferenças, enfrentando as desigualdades.

Em sua gênese, a profissão foi marcada por uma perspectiva adaptacionista, classificando, normatizando e contribuindo para a legitimação de processos de exclusão social, indiscriminadamente. As transformações sociais, a luta por liberdades democráticas e a justiça social reposicionam a psicologia, convidando todas as pessoas a repensar as relações sociais, buscando estratégias de potencialização da existência humana e de acolhimento à dor e ao sofrimento.

Somos e fomos avassalados por um processo de destruição, extermínio e desesperança diante da questão social, cenário acentuado pela atual pandemia, que afeta a todos objetiva e subjetivamente. A marca deste tempo é o adoecimento e a solidão, expressão das mazelas da economia e da política em nossas vidas, que constrói sofrimento, transposto a uma ideia de responsabilização individual das “fragilidades” humanas.

Rejeita-se a pluralidade e adota-se soluções pré-fabricadas, automáticas, que contradizem a singularidade humana, massifica-se, deslegitimando histórias, processos e vivências. Ficamos alheios às nossas vidas, emoções, sentimentos, crenças, medos e sonhos. Somos convocados a nos afastar dos afetos.

Ou seja, nos afastarmos de quem somos, como pessoas, grupo e povo, e esse despertencimento de nosso tempo-espaço por vezes naturaliza nossa situação social e nossa participação nesse processo de coletivização. A conjuntura atual coloca para todas as pessoas tarefas inimagináveis de defender e reafirmar o óbvio: a democracia com igualdade, enfrentando opressões estruturais como classismo, racismo, machismo, capacitismo e etarismo.

Para isso, precisamos convocar não só a psicologia, mas, todos os recursos técnicos, científicos e sociais para um projeto de compromisso social, para um modo de vida plural, justo e humano. Toda a sociedade, reunida coletivamente, consciente das contradições que nos determinam, defendendo objetivos comuns, buscando a construção de valores e sentidos sociais, repolarizando as energias globais no humano, na potência humana e na emancipação política de todas as pessoas.

É para isso que serve a psicologia!

Viva os profissionais que fazem dos direitos humanos um princípio irrevogável, que constroem uma ética viva, em movimento e atenta às demandas da realidade.

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