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O pior passou

Após queda inédita do PIB, retomada é desigual e impõe desafios ao país

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Lojas fechadas para aluguel na região do Bom Retiro, no centro de São Paulo
Lojas fechadas para aluguel na região do Bom Retiro, no centro de São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

A inédita contração da economia brasileira no segundo trimestre, de 9,7% frente aos três meses anteriores (e de 11,4% na comparação com o mesmo período de 2019), marcou o momento de impacto mais agudo da pandemia do coronavírus, ocorrido em março e abril.

É certo que o pior passou e a lenta volta da atividade sinaliza desempenho positivo na segunda metade do ano e em 2021, mas os riscos estruturais permanecem.

O comportamento da economia brasileira não diferiu muito do observado na maioria dos países. A retração inicial foi generalizada.

Pelo lado da produção, a queda abarcou indústria (-12,3%) e serviços (-9,7%), afetados pelo isolamento social. Do ponto de vista da demanda, igualmente, consumo (-12,5%) e investimentos (-15,4%) sofreram de forma muito intensa.

A diferenciação se dá na retomada. Setores menos vulneráveis ao distanciamento social, como indústria e consumo de bens essenciais, se recuperam com mais rapidez. As vendas no varejo restrito (que excluem automóveis e construção) já superam o nível pré-crise.

Já setores ligados a entretenimento e turismo ainda amargam forte recessão, não raro com contrações superiores a 50%. O problema é que são justamente algumas dessas áreas as que proporcionam muitos empregos, o que deve manter a desocupação elevada.

No agregado, a queda do PIB neste ano poderá ficar próxima a 5%, melhor que o estimado anteriomente. Mas o cenário para 2021 permanece preocupante.

A necessidade de reduzir o déficit público implicará restrição orçamentária. A inevitável retirada de grande parte dos auxílios emergenciais, mesmo que venham a ser substituídos por outro programa, significará menos suporte.

Por ora há ceticismo e poucos esperam que a economia cresça mais que 3,5% no ano que vem, ritmo que seria insuficiente para retomar o nível anterior à pandemia.

O tema mais crítico diz respeito ao legado da crise no emprego e na renda, sobretudo nas camadas mais pobres. A pandemia esgarçou o tecido social, ampliou a distância entre grandes e pequenas empresas e trouxe ainda mais desigualdade nos rendimentos do trabalho, que poderá revelar-se duradoura e de difícil combate.

Diferenças no acesso à educação e no emprego são exemplos dramáticos das disparidades. Segundo o IBGE, dos 8,4 milhões de pessoas em atividades remotas em julho, 73% concluíram o ensino superior.

O desafio adiante será não apenas retomar a atividade, mas conceber políticas e promover reformas que acelerem a produtividade da economia, cuja quase estagnação há décadas está na raiz do medíocre crescimento brasileiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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