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Vacina com ciência

Tese bolsonarista contra obrigatoriedade se ampara em polarização falaciosa

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Laboratório do Butantan, instituto que fabrica a Coronavac no Brasil - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O comportamento de Jair Bolsonaro na pandemia desviou-se em tudo do que se exige de um líder. Minimizou a ameaça da Covid-19, sabotou o distanciamento social, propagandeou falsas curas, manietou o Ministério da Saúde e, agora, precipita e politiza um debate sobre a obrigatoriedade da vacinação.

Bolsonaro negligencia dever básico em matéria de saúde pública, a precaução. Não há ainda vacina com níveis de segurança e eficácia conhecidos, informação imprescindível para desenhar qualquer plano de imunização, mas o presidente palpita numa discussão que deveria ser fundada na ciência.

O mandatário que já desautorizou três ministros da Saúde em plena epidemia não se peja de buscar dividendos políticos onde não devia. Criou-se, com isso, uma polarização descabida e falaciosa do tema, como se estivesse em pauta uma oposição entre liberdade pessoal e opressão estatal.

Declarar a obrigatoriedade de imunização não está apenas previsto em legislação sancionada pelo próprio Bolsonaro. Justifica-se, igualmente, pelo princípio de que um indivíduo não tem o direito de ameaçar a vida de outro. Trata-se da fixação de regras para promover o bem-estar coletivo.

O bom senso da população já assimilou, por exemplo, normas que proíbem o fumo em recintos públicos. Ninguém em sã consciência questiona cintos de segurança que tornam acidentes veiculares menos graves e acarretam economia de recursos do SUS.

Quanto a vacinas, não há novidade. Já existem no país as obrigatórias para crianças e adolescentes, estando os pais sujeitos a sanções em caso de descumprimento.

Faltam até aqui elementos para definir se a futura prevenção contra a Covid-19 precisará ser obrigatória ou não. Caso um dos imunizantes em teste se mostre 100% eficaz (uma raridade), todos que o aceitassem estariam protegidos dos trânsfugas que, por desconhecimento ou obtusidade ideológica, se recusassem a recebê-lo.

Não parece o caso, porém. Há também indícios de que anticorpos contra o coronavírus decaem com o tempo, o que talvez demande doses de reforço ou mesmo campanhas periódicas de vacinação.

Tornar a vacinação obrigatória não corresponde, como querem fazer crer seguidores fanáticos do bolsonarismo, a invadir residências ou deter indivíduos nas ruas para aplicar injeções à força.

O Estado dispõe de meios para fazê-la valer, de campanhas de esclarecimento para setores específicos a incentivos inteligentes, como condicionar o uso de serviços públicos e o retorno às escolas a provas de imunização. Trata-se de responsabilidade básica, que nenhum governante pode ignorar.

editoriais@grupofolha.com.br

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