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Sérgio Lima

Os resultados das eleições municipais atrapalham os planos de Bolsonaro para 2022? NÃO

Como afirmar que o bolsonarismo perdeu se ele nem entrou em campo?

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Sérgio Lima

Publicitário e especialista em marketing político, é responsável pela comunicação do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tenta criar

Todo brasileiro é um técnico de futebol. Como bons torcedores do esporte que é paixão nacional, damos pitacos, sugestões e análises sobre algo que a maioria nem sequer consegue praticar por lazer. Ao longo dos últimos anos, a polarização política no Brasil também revelou outra qualidade dos cidadãos: todo brasileiro é um analista político.

A expressão desse fenômeno ganhou decibéis com o empoderamento de voz que as redes sociais proporcionam. A consequência da explosão de analistas políticos de Instagram, Facebook e Twitter obrigou a imprensa a se debruçar para compreender, de fato, qual é o extrato que as eleições municipais trouxeram ao Brasil. A imensa maioria da imprensa cantou em verso e prosa a derrota do “bolsonarismo”. Obviamente, a narrativa ganhou vez e voz nas redes sociais, uma vez que críticos do presidente da República endossam todo e qualquer argumento, verdadeiro ou não, que achincalhe o chefe do Poder Executivo.

O presidente Jair Bolsonaro declara apoio ao candidato do Republicanos à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, em live no YouTube - Reprodução

Faz-se necessário, entretanto, que a análise seja fria: o presidente da República não participou da eleição. Primeiro porque não tem partido e, portanto, não concentraria forças em eleger um grupo de candidatos ideologicamente alinhados com seus valores políticos. A dispersão dos candidatos que defendem a agenda da situação é um elemento crucial na análise. A ideia de “agrupamento” é fundamental para, em bloco, lutar por vitória e derrota. Sem uma unidade partidária, é impossível decretar vitória ou derrota do ​bolsonarismo.

Mais do que isso: o presidente não participou ativamente do período eleitoral. Ao contrário de outros presidentes, não participou de comícios, não indicou seus candidatos, não fez acordos políticos, não costurou coligações. Jair Bolsonaro apenas recomendou votos em pouquíssimos postulantes que têm alinhamento ideológico com seus valores políticos. Ora, como afirmar que o bolsonarismo perdeu se ele nem entrou em campo?

O segundo elemento que é obrigatório ser incluído na fórmula de análise é a intensa crítica da imprensa ao presidente e o patrulhamento constante de seus seguidores e eleitores. Sem sombra de dúvidas, em eleições polarizadas e logo após uma das maiores crises de saúde da humanidade, candidatos se sentiram absolutamente intimidados em assumir uma posição abertamente apoiadora a Bolsonaro. Há inúmeros casos de candidatos a vereador e a prefeito que são bolsonaristas, mas não usaram esse fator na campanha. Seja por questões partidárias, seja por coligações, seja por medo da repercussão.

O terceiro e mais importante elemento é a prova inequívoca da força de Jair Bolsonaro. Candidatos que são aberta e francamente defensores do presidente, que defendem sua gestão e são apoiadores de seu governo, que decidiram enfrentar a intimidação midiática e da barulhenta oposição, tiveram expressivas votações. Não são apoiadores de ocasião, verdade seja dita. Dois exemplos: Nikolas Ferreira (PRTB), o segundo vereador mais votado de Belo Horizonte, e Carmelo Neto (Republicanos), 19, vereador mais jovem da história de Fortaleza.

O que é de espantar é a não análise desses milhões de analistas políticos que ganhamos ao longo dos meses de campanha e pós-eleição da repaginação da esquerda, que sempre teve no PT o seu timoneiro.

A desidratação do Partido dos Trabalhadores foi expressiva, mostrando que houve abertura de espaço para o PSOL vestir a camiseta canhota da política. Não há engano: as ideologias são as mesmas, o radicalismo é até maior, mas os ideais são compartilhados. Na análise fria, portanto, a verdadeira pergunta é: quando Bolsonaro conseguir sua unidade partidária, a esquerda pulverizada terá força para enfrentá-lo?

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