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Tragédia manauara

Responsabilidade de governadores e prefeitos por mortes também deve ser apurada

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Enterro de vítima da Covid-19 em Manaus - Bruno Kelly/Reuters

Num país que já perdeu mais de 240 mil vidas para a Covid-19, as pouco mais de 7.000 mortes ocorridas em Manaus podem parecer pouco. Em perspectiva, porém, as vítimas manauaras indicam quão tenebrosa se torna a pandemia quando governantes a menosprezam.

Só nos primeiros 45 dias de 2021 pereceram na capital do Amazonas 3.572 pessoas. Mais que as 3.380 falecidas no ano inteiro de 2020, e o equivalente a 8% do total brasileiro neste ano, embora a cidade abrigue 1% da população nacional.

A taxa de mortalidade acumulada ali desde a irrupção da Covid passa dos 3.200 óbitos por milhão de habitantes. A cifra supera o décuplo da média mundial de 311 mortes/milhão. São números para envergonhar qualquer brasileiro, mais ainda autoridades que admitiram tamanha tragédia.

As atenções e críticas se concentram no Ministério da Saúde e seu bisonho titular, o general Eduardo Pazuello. Com justiça, por incapaz de prever e agir para remediar em tempo o colapso no fornecimento de oxigênio para UTIs convertidas em câmaras de asfixia —para não mencionar a indignidade de promover a inócua cloroquina.

Deficiências nos serviços de saúde dos estados do Norte acumularam-se ao longo de décadas. No Amazonas registram-se 5.398 médicos, 1,3 por mil habitantes, contra a média nacional de 2,27; na capital ficava a maioria dos leitos de UTI no início da epidemia, à proporção de 2,44 por 10 mil habitantes, ante 4,57 na média das capitais.

Às pressas, abriram-se no ano passado 137 vagas de tratamento intensivo em hospitais públicos para enfrentar a invasão do novo coronavírus. Entre julho e outubro de 2020, porém, o governo do Amazonas, chefiado por Wilson Lima (PSC), desativou 117 desses leitos.

Não bastasse tal imprevidência, com UTIs já no limite de 85% de lotação, o governador reverteu a determinação de fechar o comércio não essencial durante as festas de dezembro, após manifestações de protesto em Manaus. O resultado trágico hoje todos conhecem.

O governo Jair Bolsonaro carrega, decerto, o peso maior de responsabilidade pelas mortes evitáveis —por pregar contra o distanciamento social, propagandear falsas curas e resistir o quanto pôde a planejar a vacinação.

A constatação não implica, contudo, isentar governadores e prefeitos de responsabilidade. Todos precisam ter suas ações e omissões investigadas com rigor.

editoriais@grupofolha.com.br

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