Dá bem a medida do descalabro causado pela Covid-19 na América Latina o fato de que, embora abrigue 8% da população mundial, a região registre 19% dos casos e assustadores 27% das mortes globais. Em números absolutos, são cerca de 750 mil óbitos e quase 24 milhões de casos confirmados.
No quadro geral desolador, um trio de países vem se destacando negativamente em âmbito global —México, Peru e Brasil. Não por acaso. Os três compartilham um enfrentamento débil e descoordenado da pandemia, seja pelo azar de contarem com lideranças negacionistas, seja pelo impacto de graves turbulências políticas.
No México, que tornou-se a terceira nação do mundo em quantidade de mortes, o presidente Andrés López Obrador passou meses minimizando a pandemia, furtando-se a decretar quarentenas mais rigorosas, afirmando que o país estava prestes a vencer a batalha contra o Sars-CoV-2 e recusando-se a endossar o uso de máscaras.
Já o Peru, um dos países com pior taxa de mortes por milhão, conta cinco ministros da Saúde desde o início da crise sanitária, fruto de um desarranjo político e institucional que já derrubou dois presidentes nos últimos seis meses.
O Brasil, epicentro atual da pandemia, registra novo recorde de mortes diárias, agora acima de 3.000, em meio à sabotagem do presidente, ao colapso dos hospitais e à tibieza do Ministério da Saúde.
O quadro continental é agravado pela morosidade da vacinação. A América Latina aplicou pouco mais de 6% das doses mundiais, e países como Equador, Colômbia, Bolívia e Paraguai imunizaram menos de 3% de seus cidadãos.
A exceção honrosa é o Chile, que já administrou ao menos uma dose do imunizante em quase metade da população, o que o coloca entre as cinco nações que mais vacinaram. A receita do sucesso é simples: contratos com as farmacêuticas fechados com antecedência, diversificação de fabricantes e sinergia dos entes políticos.
A combinação de vacinação lenta com alta disseminação do vírus observada hoje na América Latina, além de provocar milhares de mortes evitáveis, favorece ainda o surgimento de mutações mais contagiosas e letais do novo coronavírus —mais do que uma ameaça à região, um risco para todo o planeta.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.