Um governo de quatro

Um quadrunvirato, ainda mais familiar, é algo inaudito em regimes republicanos

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Wilson Gomes

Professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, é autor de "Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa" (Paulus)

Mal começou a CPI e já confirmamos muito do que suspeitávamos. Primeiro, que Bolsonaro junta em si as quatro principais características de um mau governante.

Antes de tudo, é um centralizador absoluto, incapaz de compartilhar poder e de delegar responsabilidades. Tem sido o nosso único ministro da Saúde, não obstante a profusão de bonecos de ventríloquos e marionetes que põe por lá —e que do cargo retira assim que os titulares começam a pensar que são ou podem ser mais do que isso. Mas há também a paranoia. O presidente é o protótipo do rei louco que vê sombras e conspirações em toda a parte e precisa exibir poder para desafiantes imaginários. Vive num diminuto círculo identitário de familiares, fardados e crentes, sitiado por inimigos que, crê, querem tomar-lhe o trono.

Além disso, trata-se de um incompetente, incapaz de entregar qualquer coisa que não possa ser entregue por perdigotos e lacração. Sua aposta é sempre na inação (se a gente não fizer nada, a pandemia passa) ou no atalho (tem um remédio baratinho aí...), vez que não é capaz de planejar e antecipar. Por fim, há nele notável ausência de empatia, impossibilidade de ver e sentir o sofrimento alheio. Move-se à base do "que se danem" os que não forem da sua seita, é perverso com quem diverge e com qualquer um que não seja da sua família e dos aliados.

Não só. Descobrimos que, embora centralizador, sempre governou de quatro. Há um quadrunvirato em Brasília, formado por Bolsonaro e três dos seus filhos. São quatro presidentes da República. Como soubemos, eles sabatinam postulantes aos ministérios, sentam-se em reuniões de governo e tomam decisões alternativas às dos titulares dos cargos. Sempre orientados pela convicção de que são missionários ungidos pelas urnas para salvar o Brasil e o mundo da dominação esquerdista.

Um quadrunvirato, ainda mais familiar, é algo inaudito em regimes republicanos. No Brasil de Bolsonaro, porém, não só existe como manda em tudo.

Flávio, Jair, Carlos e Eduardo Bolsonaro - Flickr/Bolsonaro
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