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Pêndulo persa

Pressionado por coalizão regional e pelos EUA, Irã endurece com novo presidente

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O presidente eleito do Irã, Ebrahim Raisi, durante entrevista coletiva em Teerã - Majid Asgaripour/Wana/Reuters

Apesar de promover eleições de forma regular, a teocracia iraniana não é uma democracia. Fórum de luminares do regime, o Conselho dos Guardiões veta candidatos inadequados ideologicamente.

De tempos em tempos, contudo, o pêndulo do país persa se move, dando algum sinal de vitalidade ao ossificado sistema político da revolução de 1979, que é liderado pelo aiatolá Ali Khamenei.

Assim, alternaram-se moderados como Mohammad Khatami e radicais como Mahmoud Ahmadinejad, que foi substituído novamente por um nome mais suave, Hassan Rouhani, em 2013.

Na sexta-feira (18), 62% dos eleitores escolheram presidente um ultraconservador, Ebrahim Raisi. O menor comparecimento às urnas da história indica em si um protesto contra a natureza do pleito, além de mostrar o impacto da má gestão da pandemia e da repressão a protestos desde 2017.

Raisi é um linha-dura. Ao fim da guerra Irã-Iraque, em 1988, foi um dos responsáveis pela execução de talvez 5.000 prisioneiros políticos. Desde 2019, é o presidente do Judiciário. Nessa condição, apontou alguns dos tais guardiões, que abriram o caminho para sua eleição retirando rivais da corrida.

O Irã constitui um dos polos vitais do precário equilíbrio estratégico do Oriente Médio, e Raisi é uma resposta do seu governo ao cerco sofrido desde 2017, quando Donald Trump assumiu o poder.

O republicano retirou Washington do acordo, de resto problemático, que coibia o desenvolvimento de armas nucleares por Teerã.

Patrocinou também uma frente anti-Irã. Nesse processo, Israel fez as pazes com alguns países árabes sunitas e estabeleceu uma antes impensável aliança tácita com o centro desse ramo majoritário do islamismo, a Arábia Saudita.

O Irã, fortaleza do minoritário e rival xiismo, trabalha com uma rede de grupos aliados locais para espezinhar tanto o Estado judeu quanto esses vizinhos árabes.

Em sua primeira entrevista, Raisi disse a que veio: quer concessões americanas para voltar a negociar a questão nuclear como deseja Joe Biden, não aceita conversar com o presidente americano e descarta colocar seus preciosos mísseis balísticos em qualquer negociação.

Otimistas verão na fala de Raisi abertura para discutir a guerra por procuração contra os sauditas no Iêmen, mas sob seus termos. Tudo indica que Biden não terá vida fácil com o novo presidente.

editoriais@grupofolha.com.br

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