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Aventura na África

Mourão protagoniza vexame ao tentar defender Igreja Universal em Angola

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O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, em encontro com o presidente de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço - Romério Cunha/ VPR

No clássico “Uma Aventura na África” (1951), Humphrey Bogart é um cínico descrente que acaba por ajudar missionários protestantes a escapar dos alemães que tomaram o leste africano na Primeira Guerra Mundial. Acaba tendo sucesso.

O vice-presidente Hamilton Mourão não é nenhum Bogart ou seu personagem Charlie, certamente, mas involuntariamente se envolveu num enredo pervertido sobre o tema em pleno ano de 2021.

Na semana passada, o vice foi a Angola representando o Brasil em uma reunião da fantasmagórica Comunidade de Países de Língua Portuguesa, ente que reúne países lusófonos cujos encontros são relegados ao segundo plano diplomático sempre que possível.

Mas a missão real de Mourão, um general da reserva, era outra. Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o vice encontrou-se numa agenda bilateral com o presidente angolano, João Manuel Lourenço.

Em vez de discutir qualquer coisa útil que fosse ao país, o general cumpria um pedido do chefe, Jair Bolsonaro, e interveio em favor da Igreja Universal do Reino de Deus.

Como se sabe, a liderança da denominação e seu braço de mídia, a Record, apoiam Bolsonaro. Em Angola, o grupo está em apuros.

Há dois anos, a igreja passou a ser acusada de crimes financeiros por parte de alguns de seus integrantes no país africano. Ato contínuo, tomou-se o controle de templos, e a Record acabou expulsa.

As agruras judiciais seguintes, com deportações de missionários brasileiros e processos, são da jurisdição do Itamaraty, não da Vice-Presidência da República.

Cabe ao Brasil dar apoio no caso de os acusados não terem suporte legal ou serem maltratados. Não parece ser bem a situação atual.

Mourão pediu tratamento adequado aos envolvidos, mas foi além: requereu a Lourenço que recebesse uma delegação de parlamentares evangélicos para discutir a situação da Universal.

O presidente angolano disse não, amparado no fato de que, como chefe do Executivo, não caberia a ele negociar com membros do Legislativo de outro país.

Mourão falou candidamente sobre o assunto, como se querendo explicitar que sua inglória aventura na África era coisa do chefe, que encontra nos segmentos evangélicos uma de suas últimas trincheiras de popularidade não tão erodida.

Seja como for, integrou a coleção de vexames a que o país vem sendo submetido sob Bolsonaro.

editoriais@grupofolha.com.br

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