Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Militares em retirada

Defesa se ultraja com subserviência a Bolsonaro, mas não há margem para golpe

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O ministro da Defesa, general Braga Netto, e o presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters

Pela segunda vez em 15 dias, o Ministério da Defesa ultrapassou os limites da República para se intrometer em assuntos da vida civil. Desta feita, ao manifestar-se sobre reportagem de O Estado de S. Paulo, o ministro e general da reserva Walter Braga Netto agitou a bandeira bolsonarista do voto impresso.

Militares não têm nada a dizer do sistema de escrutínio, tampouco lhes cabe ameaçar o Congresso, como fez a Defesa na reação extremada ao comentário do senador Omar Aziz (PSD-AM) sobre o fato de integrantes das Forças Armadas aparecerem em desmandos investigados na CPI da pandemia.

É uma lástima que o ministério encarregado de conduzir os assuntos administrativos das Forças Armadas tenha se ultrajado como um anexo do autoritarismo delirante do presidente da República. É ainda pior a subserviência a que foram obrigados os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica.

Os detritos que se apartam do continente da Constituição, no entanto, são Jair Bolsonaro, Braga Netto e os desajustados que, dentro e fora do governo, alimentam o golpismo mofado e impraticável. As forças legalistas, majoritárias, não acompanham os escolhos.

Se os chiliques brutalizantes dos últimos dias produziram algum efeito, foi o de inviabilizar de vez a pretendida subversão estapafúrdia da urna eletrônica. Já eram exíguas as chances da aprovação do voto impresso —tornaram-se nulas.

A proposta de emenda à Carta que exclui militares da ativa de postos da administração civil, medida providencial, também ganhou força no Legislativo. A gritaria mal escondeu o sentido da reforma a consumar-se no ministério de Bolsonaro: recuam as fardas, avançam os “casacas” do centrão partidário.

Não resta dúvida de que haverá votação direta para presidente, governadores, deputados e senadores no dia 2 de outubro de 2022, com segundo turno no dia 30 subsequente. Os votos serão depositados nas urnas eletrônicas e apurados e divulgados sob a vigilância habitual da sociedade e dos partidos.

Como de costume, os vencedores assumirão seus cargos em janeiro e exercerão os mandatos nos limites legais. Os perdedores voltarão para casa e poderão tentar eleger-se novamente nos pleitos que ocorrem rotineiramente a cada biênio.

É essa certeza que apavora o bolsonarismo e toda a linhagem de populistas autoritários em nações comprometidas com a via democrática. Aventureiros incompetentes e rufiões bravateiros tendem a dar-se mal quando expostos ao julgamento implacável do eleitor que maltrataram e desrespeitaram ao longo de um mandato inteiro.

Não há nada que possam fazer contra esse fato mecânico a não ser espernear feito crianças birrentas.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.