O Brasil está sendo governado por uma aliança entre “a alta nata de tudo o que não presta no Brasil” e “um fascista”. Pelo menos é assim que os sócios deste governo se chamavam até outro dia.
Foi no lançamento de sua candidatura à Presidência, em 2018, que Jair Bolsonaro chamou o centrão de “nata de tudo o que não presta”. Seguia o coro do general Augusto Heleno, que entoara ao microfone: “Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”.
Já o “fascista” é de autoria de Ciro Nogueira, presidente do PP, ao dizer que tinha “muita restrição” a Bolsonaro. “Porque é um fascista, tem um caráter fascista, preconceituoso”, disse o senador, em 2017, na mesma entrevista em que chamou Lula de “o melhor presidente da história”.
Na última quarta-feira, Bolsonaro telefonou para Ciro Nogueira e o convidou para assumir a chefia da Casa Civil do seu governo. O senador aceitou. Sem restrições.
Hoje, Bolsonaro paga para ser presidente. Já entregou à “alta nata de tudo o que não presta” ministérios, bilhões em cargos e emendas, o apoio à eleição de Arthur Lira, do PP, à presidência da Câmara e também suas convicções. Heleno foi um dos que abandonaram antigos princípios. “Faz parte do show político”, disse.
A sustentação de Bolsonaro, no entanto, tem ficado cada vez mais cara. Logo depois de criticar o aumento do fundo eleitoral aprovado pelos deputados, recebeu o recado de que a base aliada não gostou do comentário e esperava, em troca, algum gesto. A Casa Civil foi o tal gesto.
Bolsonaro, em contrapartida, também tem subido a aposta. Além da blindagem contra o impeachment, pede o engajamento de Lira na aprovação do voto impresso para sustentar sua tese de fraude quando perder a eleição em 2022. A notícia de que o ministro da Defesa teria, inclusive, ameaçado Lira com a não realização da eleição deixa claro que esse show de chantagens tem tudo para terminar em tragédia.
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