Correram o planeta as imagens chocantes do caos que tomou o aeroporto internacional de Cabul, capital do Afeganistão, após a conquista da cidade pelo Talibã.
Uma multidão desesperada de civis invadiu a pista de voo tentando embarcar nos aviões que partiam, com alguns chegando a se agarrar ao trem de pouso das aeronaves.
Não faltam motivos para a agônica tentativa de fuga. Embora o grupo extremista islâmico venha buscando passar uma imagem de moderação, os horrores do período em que o Talibã esteve no poder, de 1996 a 2001, permanecem arraigados na memória dos afegãos.
Seu domínio foi marcado pela supressão de direitos humanos e pela brutalidade sem freio. O estádio da capital tornou-se palco de execuções públicas. Cinema, música e televisão foram proibidos.
As mulheres, em especial, sofreram amargamente. Impedidas de frequentar escolas, elas só tinham permissão para sair de casa acompanhadas de um homem.
Agora, a despeito das promessas, avolumam-se relatos de feroz repressão a protestos contra o movimento em Cabul e outras partes do país, provocando mortes.
Trata-se, pois, de um momento crítico, a exigir esforço concertado da comunidade internacional. No domingo (15), mais de 60 países emitiram um comunicado conjunto pedindo que os afegãos que queiram deixar o país possam fazê-lo sem impedimentos.
Depois dessa etapa, contudo, essas pessoas precisam de condições mínimas para conseguir se estabelecer em outro local. É algo em que o Brasil pode e deve colaborar.
Ao reconhecer, desde o final de 2020, a situação de “grave e generalizada violação de direitos humanos” no Afeganistão, o governo brasileiro passou a facilitar o pedido de refúgio para os afegãos que aqui ingressem.
Ocorre que só é possível valer-se desse expediente depois da chegada ao Brasil. Assim, convém que o Itamaraty avalie a emissão de vistos humanitários para os oriundos do país asiático, a exemplo dos já concedidos aos sírios.
Isso não só torna possível a viagem como dá, àqueles que aqui aportam, autorização para residência e trabalho, além de acesso às redes públicas de saúde e educação.
Ao longo de sua história, o Brasil tem demonstrado disposição de acolher pessoas de outras nacionalidades que fogem de crise e perseguição. É hora de colocar essa tradição em prática novamente.
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