Descrição de chapéu
O que a Folha pensa clima

Emergência climática

IPCC alerta para necessidade de reagir ao aquecimento global; resta uma década

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Incêndio florestal na Califórnia - Josh Edelson/AFP

De cinco em cinco anos, em média, o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, em inglês) edita arrazoados sobre a melhor ciência acerca da mudança do clima da Terra. São os relatórios de avaliação, dos quais haverá nova versão completa em 2022.

A publicação se faz por partes, e a primeira delas a compor o sexto documento da série (AR6) acaba de sair. O texto contém um apanhado do que 234 pesquisadores de 65 países compilaram de medições e previsões para os efeitos do aquecimento global sobre o clima e a meteorologia, com vistas a nortear a ação de governos.

Não se encontram muitas boas notícias ali. Talvez a melhor seja que ainda não se fechou a janela para alcançar a meta ambiciosa do Acordo de Paris (2015): conter o esquentamento da atmosfera abaixo de 1,5ºC até o final do século, para evitar os piores impactos antevistos por climatologistas.

A ênfase do AR6 recai em “ainda”, pois a chance de obter tal resultado se estreita a cada ano em que as emissões de carbono (gases do efeito estufa) seguem em acumulação. Já agregamos 1,09ºC desde a era pré-industrial, e quase certamente a marca de 1,5ºC será ultrapassada antes de 2100.

Resta apenas uma década para a comunidade internacional concordar com medidas drásticas de descarbonização da economia que não conseguiu encetar em três de negociações. Para ficar na margem segura, cada país precisaria ampliar muito os compromissos firmados de redução de emissões.

Algumas nações deram tal passo na cúpula realizada pelo presidente americano, Joe Biden, em abril. O agregado de promessas, entretanto, permanece insuficiente para cumprir o acordo parisiense, e avanços enormes teriam de acontecer na 26ª reunião do clima, em Glasgow (COP-26), em novembro.

Não se mostra auspiciosa a perspectiva de que tal aconteça no encontro escocês. A renovada rivalidade China-EUA, mesmo após a guinada pró-clima americana, pode amarrar as tratativas; pior, não faltam governos negacionistas, como o de Jair Bolsonaro no Brasil, para atrasar a marcha.

A principal contribuição brasileira para a poluição climática vem de desmatamento, pecuária e agricultura. O agronegócio figura também entre as prováveis vítimas da crise do clima, diante de eventos meteorológicos extremos frequentes e imprevisíveis.

O setor rural segue como um dos principais esteios do presidente e sua política antiambiental. Há dissidências entre seus líderes mais expostos ao mercado mundial, mas sem poder de mudar a correlação de forças no Congresso. Quando despertarem para a realidade, poderá ser tarde demais.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.