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Perto do apagão

Escancara-se o risco de que falte energia elétrica no país, e é preciso planejar

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Represa de Itupararanga, que abastece 80% das residências de Sorocaba (SP) - Danilo Verpa/Folhapress

Com a falta de chuvas nos últimos dois meses, inferiores ao padrão já escasso do mesmo período de 2020, ficou mais evidente a ameaça de que a geração de energia se mostre insuficiente para manter o fornecimento até novembro, quando se encerra o período seco.

Apesar do quadro dramático —a pior crise hídrica em 90 anos— e das recomendações para a adoção de medidas de redução de riscos, o governo se mexe devagar.

De modo patético, Jair Bolsonaro pediu que os brasileiros apagassem “um ponto de luz” em suas casas, sem explicar a dimensão do problema, que já surge nos sucessivos aumentos da conta de luz.

A inglória tarefa fica apenas a cargo dos órgãos técnicos, que ao menos estão agindo, embora de maneira incremental. Novas simulações do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram agravamento, com destaque para a região Sul, onde o nível dos reservatórios até 24 de agosto caiu para 30,7% —a projeção anterior apontava para 50% no fechamento do mês.

Mesmo no cenário mais favorável, que pressupõe um amplo conjunto de medidas, como acionamento de grande capacidade de geração térmica, importação de energia e postergação de manutenção de equipamentos, o país chegaria em novembro praticamente sem sobra de potência, o que amplia a probabilidade de apagões.

Embora se espere que tais medidas sejam suficientes para evitar racionamento neste ano, não se descartam sobressaltos pontuais, no contexto da alta demanda a que o sistema será submetido.

Apesar da ausência de liderança do presidente, é um primeiro passo o anúncio, feito pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de um plano de descontos na conta de luz para consumidores que se dispuserem a economizar energia voluntariamente. O custeio desses incentivos recairá sobre todo o sistema.

Mesmo que se consiga chegar a novembro sem interrupções na carga, os riscos não terão sido superados. As restrições à vazão em reservatórios importantes, que vigoram há anos, não bastaram para recuperar os níveis de água.

Se o regime de chuvas no verão não superar a média dos últimos anos, a margem de manobra para 2022 será ainda menor. Calcula-se que, nesse quadro, a geração térmica, mais cara, tenha de permanecer durante todo o período úmido, o que seria algo inédito.

Desde já o país precisa considerar os piores cenários e agir com toda a prudência possível, com foco em investimentos na geração, modernização de turbinas em hidrelétricas antigas e planejamento para ampliar a resiliência do sistema.

editoriais@grupofolha.com.br

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