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Futebol para robôs

Entidades da modalidade submetem atletas a rotina insana de desgaste e lesões

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Neymar comemora gol em jogo contra o Uruguai - Ricardo Nogueira/FotoFC

O calendário do futebol brasileiro não cabe nas datas disponíveis para a disputa dos diversos torneios previstos. Esta falha elementar repete-se há décadas, como se fosse um problema insolúvel.

Na tentativa de acomodar a maratona irracional de competições a cada ano, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) descumpre sistematicamente a regra básica de paralisar as disputas nacionais em datas reservadas pela Fifa (a entidade máxima da modalidade) para jogos de seleções, como se viu na semana que passou.

Tempos atrás, ao se valer desse expediente, a CBF se aproveitava da decadência do futebol por ela administrado, uma vez que a quase totalidade dos convocados para a equipe nacional atuava na Europa.

Hoje, por uma série de fatores, atletas brasileiros e de países vizinhos, que aqui atuam, têm sido chamados a participar dos torneios da Fifa —como as Eliminatórias da Copa do Mundo.

O resultado é que a inépcia em definir o calendário prejudica as competições que a mesma confederação organiza, subtraindo nas datas Fifa jogadores de destaque dos clubes, brasileiros ou não.

Dirigentes de agremiações mais atingidas pelo disparate mostram-se insatisfeitos, mas, paradoxalmente, nada fazem de concreto para alterar a situação.

Ao contrário, anualmente subscrevem a proposta de calendário da CBF, que prevê longo e desnecessário período para campeonatos de baixa qualidade, como os estaduais, acavala os principais certames e invade os intervalos das disputas internacionais.

Também os jogadores, submetidos a uma rotina de desgaste físico e lesões, raramente se manifestam.

A própria Fifa e suas filiadas, diga-se, tem contribuído para agravar o acúmulo de torneios e jogos caça-níqueis de seleções. Trata-se de fórmula fácil, uma vez que as confederações filiadas apenas usam em seu proveito estrelas mundiais formadas e reveladas pelos clubes —e por eles remuneradas.

Na última terça (11), o goleiro Courtois, da seleção da Bélgica, quebrou o silêncio de sua categoria ao criticar a Uefa (a confederação europeia) por decisões que colocam as finanças à frente dos critérios esportivos. “Não somos robôs.”

Com planos para realizar Copas do Mundo a cada dois anos e ampliar o número de participantes, a Fifa não demonstra autoridade para assegurar padrões mais sensatos à modalidade que administra.

editoriais@grupofolha.com.br

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