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O que a Folha pensa

A farsa se desvela

Com o PL, Bolsonaro caminha para a sua matriz, o centrão, em união sem firmeza

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O presidente Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/Reuters

A anunciada filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL de Valdemar Costa Neto, condenado por corrupção no mensalão, é mais um lance a desvelar a farsa, que só aos incautos iludiu, de que o capitão reformado do Exército renovaria os usos e costumes da política.

Se for confirmada a adesão, o Partido Liberal —não confundir significante com significado— será a nona sigla a abrigar Bolsonaro desde que ele entrou na política, no Rio da década de 1980, elegendo-se vereador e depois deputado federal por setes vezes seguidas.

Nesse período, constituiu em torno de seu núcleo familiar uma oligarquia provinciana, alimentada pelos votos e pelos interesses do corporativismo armado fluminense e financiada com dinheiro do contribuinte, por meios que as investigações sobre as chamadas rachadinhas vão deixando patentes.

Numa conjunção de fatores que dificilmente se repetirá, da periferia do sistema representativo foi alçado diretamente à Presidência. Sem capacidade administrativa, projetos nem quadros, acabou presa dos oligarcas federais do centrão, aos quais cedeu o manche e abriu os cofres do governo em troca de não sofrer impeachment.

O conúbio com a nata do fisiologismo nacional, associada aos grandes escândalos de corrupção desde a redemocratização, figura assim como caminho natural do grupo liderado pelo presidente. Era isso que o bolsonarismo almejava tornar-se, afinal, quando crescesse.

O movimento conota a admissão, por Bolsonaro, de que a disputa de 2022 se afastará da excepcionalidade da de 2018, em que ele pôde vencer dispensando grandes máquinas e costuras partidárias. A possível associação ao PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), reforça essa percepção.

Num quadro agravado pela penúria econômica, ela mesma catalisada pela disfuncionalidade da relação entre Executivo e Legislativo, não há que esperar, contudo, união firme de propósitos entre o candidato à reeleição presidencial, de um lado, e os mandachuvas das agremiações do centrão, do outro.

A sobrevivência do consórcio fisiológico depende sobretudo da manutenção de bancadas volumosas na próxima legislatura federal, a despeito do nome que seja eleito para o Planalto. Para isso, seus caciques na prática vão apoiar ou deixar de apoiar quem quer que seja no contexto de suas regiões.

Caso a popularidade e a viabilidade eleitoral de Jair Bolsonaro sigam se deteriorando, ele será abandonado de fato pelos sobreviventes do mensalão e do petrolão, interessados somente em que continue o fluxo de liberação de emendas que vai facilitar sua recondução ao Congresso em 2023.

editoriais@grupofolha.com.br

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