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Caos etíope

Guerra civil iniciada por ganhador do Nobel da Paz completa um ano de devastação

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Protesto em Adis Abeba, capital de Etiópia - Eduardo Soteras/AFP

Um ano após seu início, a guerra civil que assola o norte da Etiópia ganha contornos cada vez mais dramáticos, afundando o segundo país mais populoso da África em caos e catástrofe humanitária.

Na semana passada, o governo etíope declarou estado de emergência em todo o país depois que insurgentes da região do Tigré anunciaram a captura de novos territórios e a intenção de marchar rumo à capital Adis Abeba.

A medida de exceção foi tomada dois dias depois de o primeiro-ministro Abiy Ahmed ter conclamado a população a pegar em armas para lutar contra a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) e afirmar que "morrer pela Etiópia é um dever de todos nós".

A retórica inflamada estendeu-se às redes sociais, onde uma mensagem do premiê foi suprimida pelo Facebook por incitação à violência.

Não deixa de ser uma ironia da história que, menos de dois anos atrás, o mesmo Ahmed era galardoado com o Nobel da Paz "por seus esforços em alcançar a paz e a cooperação internacional" que encerraram duas décadas de hostilidades com a vizinha Eritreia.

Onze meses depois, o premiê lançava a Etiópia numa guerra de consequências imprevisíveis para a região e devastadoras para o país.

As contendas tiveram início após a TPLF, que comandou o país de 1991 a 2012, promover no Tigré eleições que haviam sido suspensas pelo governo central em razão da pandemia. A tensão logo deu lugar ao enfrentamento. Acusando as forças tigrínias de atacar uma base do Exército, Ahmed retaliou.

A TPLF reagiu, retomando o controle da região e avançando sobre áreas vizinhas. Numa mistura de embate étnico com disputa pelo poder, o conflito vem ganhando novos atores. Nove grupos de oposição ao governo anunciaram recentemente uma aliança com a TPLF para retirar Ahmed do poder.

Como sói ocorrer, a população civil tem sido a principal vítima da guerra. Estima-se que 2 milhões de etíopes já tenham sido deslocados no Tigré, e 400 mil pessoas enfrentam grave escassez de alimentos, na maior crise humanitária dos últimos anos no leste da África.

Os dois lados, ademais, são acusados de violações de direitos humanos, incluindo estupros e torturas.
Para além desse saldo trágico, o risco agora é que o conflito ultrapasse as bordas da Etiópia e gere novas instabilidades numa região do continente já marcada por guerrilhas e pelo extremismo islâmico.

editoriais@grupofolha.com.br

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