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Clara Zsigmond, Maria Luiza Altheman e Mariana Kaliks

O poder dos jovens

Não precisamos cruzar um oceano para entender a dor por trás do refúgio

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Clara Zsigmond, Maria Luiza Altheman e Mariana Kaliks

Estudantes de 17 anos

A enorme crise humanitária atual —que, segundo o Acnur, a agência da ONU para refugiados, já afeta mais de 82 milhões de pessoas em todo o mundo— sempre nos pareceu muito distante. Ouvimos falar de refugiados em países asiáticos, africanos, no Oriente Médio ou mesmo na Europa, mas as notícias, de maneira geral, raramente mencionam aqueles que estão próximos de nós.

Então imaginem a nossa surpresa —e indignação!— ao descobrir que existem mais de 260 mil refugiados e imigrantes venezuelanos vivendo no Brasil. São homens, mulheres, idosos, crianças e adolescentes que se viram forçados a deixar um país vizinho ao nosso. Não precisamos cruzar um oceano para entender a dor, o drama e todo o sofrimento por trás do refúgio. Ele está bem ao nosso lado.

Diante dessa realidade alarmante, fazer parte de um projeto como o "Mi Casa, Tu Casa * Minha Casa, Sua Casa" nos pareceu natural e até esperado. Construir bibliotecas nos abrigos para os refugiados venezuelanos em Roraima não só dá a jovens como nós uma opção de lazer como permite que eles aprendam a língua portuguesa mais depressa —e esse é um fator crucial para que eles possam continuar seus estudos no Brasil e recomeçar suas vidas.

Quando nos juntamos ao projeto, nossas expectativas eram de que estaríamos ali só para auxiliar em um processo liderado pelos adultos. Mas foi o oposto disso. Da arrecadação de livros às mídias sociais, passando pela formação de parcerias e pelo levantamento de fundos, tudo tem a participação dos jovens. E ela foi, e ainda é, decisiva.

Para começar, arrecadamos quase 40 mil livros —de uma meta de 5.000! Falamos com nossos amigos e escolas, fomos atrás de empresas e editoras. E não parou por aí. Vejam o caso do Thomas que, com 16 anos e morando na Inglaterra, arrecadou R$ 7.000 para a causa depois de organizar uma corrida. Outro exemplo é o de Alma, João Pedro e Bia, que angariaram R$ 5.000 com uma rifa na escola. Ou o Deivyd, que mobilizou uma comunidade inteira em Osasco (SP) para doar mais de 600 livros em plena pandemia. Quando você percebe o quão longe é possível chegar e o tamanho da diferença que pode fazer, o mundo fica com outra cara.

Nós também aprendemos muito. Uma das nossas responsabilidades é cuidar do perfil do "Mi Casa, Tu Casa" no Instagram (@micasatucasa_brasil). Ali percebemos como é importante trabalhar em equipe, respeitar opiniões divergentes, solucionar conflitos e dilemas por meio do diálogo e acolher quem é diferente. É um aprendizado que vamos levar para a vida.

A gente sempre diz que a leitura nos tornou quem somos: jovens curiosas, que sonham em mudar o mundo. Esperamos que esses livros possam inspirar os jovens venezuelanos a fazer o mesmo com relação a seus destinos. E que outras tantas crianças e adolescentes pelo Brasil tenham a certeza de que podem agir para mudar as coisas. Somos mais fortes e capazes do que pensamos. Quando agimos juntos, ninguém nos para.

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