Descrição de chapéu
O que a Folha pensa América Latina

Ao relento

Em busca de refúgio no Brasil, venezuelanos viram objeto de exploração eleitoreira por Bolsonaro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dezenas de pessoas reunidas sob a marquise de uma galeria de lojas, numa rua de Pacaraima (RR). As pessoas estão com cobertores, algumas em pé, a maioria deitadas no chão. Há homens, mulheres, jovens e crianças.
Migrantes em sua maioria venezuelanos se abrigam sob marquise para se proteger da chuva em Pacaraima (RR). - Mathilde Missioneiro - 4.set.2021/Folhapress

Embora goste de propagandear o apoio prestado pelo Brasil aos venezuelanos que fogem da catastrófica ditadura chavista, Jair Bolsonaro não se mostra muito preocupado com a dramática situação que milhares desses refugiados e migrantes enfrentam em Roraima.

Como se viu na sua recente viagem ao estado, quando visitou um centro de acolhida em Boa Vista, as atenções do presidente estão todas voltadas para as eleições de 2022, quando buscará novo mandato.

Diante das famílias ali abrigadas, Bolsonaro retomou sua pregação sobre uma fantasiosa ameaça socialista ao Brasil. Conforme a litania presidencial, uma vitória da esquerda no pleito do ano que vem poderá levar o país a um caos social e econômico similar ao vivido hoje pela Venezuela.

"A gente não quer isso para o nosso país", afirmou. "As escolhas erradas levam a isso", acrescentou, em meio a menções ao Foro de São Paulo, fantasmagoria recorrente no discurso do mandatário.

O objetivo de Bolsonaro com sua retórica é, claro, açular o sentimento antipetista que impulsionou sua candidatura na campanha de 2018. A repetição do estratagema, contudo, apenas trai um governante que tem pouco ou nada para mostrar além do descalabro engendrado nos últimos três anos.

Preterida pela fala do presidente, a situação dos venezuelanos em Roraima constitui uma crise humanitária que não pode ser ignorada.

Em Boa Vista, além dos mais de 6.700 refugiados que vivem nos abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo Exército, existem cerca de 1.800 venezuelanos desabrigados, parte deles dormindo nas ruas da cidade, segundo a Organização Internacional de Migrações.

Na fronteira com a Venezuela, em Pacaraima, cidade que foi excluída do roteiro presidencial na última hora, o quadro é ainda mais preocupante. Nesse município de 18 mil habitantes, vivem 4.225 venezuelanos desabrigados, dos quais 2.330 pernoitam em calçadas e embaixo de marquises.

Os números escancaram a necessidade urgente de aumento das equipes e melhoria da estrutura de atendimento nos locais de abrigo.

A exploração politiqueira do sofrimento dos refugiados venezuelanos pode até se ajustar bem ao figurino do candidato à reeleição. Como presidente, compete a Bolsonaro a tarefa de fortalecer o programa de acolhimento em Roraima para que cumpra adequadamente seus objetivos humanitários.

editoriais@grupolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.