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O que a Folha pensa

Cobrar o passaporte

Exigência de comprovação de vacina precisa se generalizar, inclusive nas escolas

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Vacinação das crianças com Coronavac em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

O expressivo recrudescimento da Covid-19 registrado nesta semana no país não apenas reaviva os temores com relação à doença como deixa mais claro do que nunca a importância da vacinação geral, sem a qual o vírus prosseguirá circulando, com risco de produzir novas e mais agressivas cepas.

Nesta sexta (28), o Brasil contabilizou nada menos que 257.239 casos confirmados da enfermidade. Com isso, a média móvel de infecções nos últimos sete dias atingiu a marca de 183.203, a maior já registrada desde o início da pandemia.

A tendência de alta é clara. Na comparação com a média de 14 dias atrás, observa-se aumento de mais de 150% nas contaminações.

As hospitalizações seguem escalada parecida. A ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva cresceu em 18 estados e no Distrito Federal. Ao menos nove unidades da Federação já contam 80% ou mais das vagas públicas de UTI para Covid-19 em uso, contra quatro na semana anterior.

Embora ainda longe dos piores momentos, as mortes também saltaram de modo alarmante. Nesta sexta foram anotados 779 óbitos, fazendo com que a média móvel alcançasse o patamar mais alto (472) desde o início de outubro.

Nesse cenário, é essencial que se generalize no país a cobrança do passaporte vacinal, medida que a um só tempo aumenta a proteção coletiva e serve como forte incentivo para que mais pessoas se imunizem, reduzindo a transmissão comunitária do patógeno.

Além de compulsório em eventos, estabelecimentos comerciais, repartições públicas, aeroportos e aparelhos culturais, o comprovante de imunização precisa também ser exigido, ao menos para os alunos maiores de 12 anos, nas escolas que agora iniciam o ano letivo, como já ocorre com as vacinas obrigatórias da infância.

Afigura-se preocupante, pois, que apenas sete estados tenham, até o momento, expressado a intenção de requerer a comprovação.

Do governo Jair Bolsonaro não se pode esperar nada senão tumulto e desinformação, como mostra a escandalosa nota técnica produzida pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.

No documento, a pasta se manifesta contra a necessidade da imunização infantil e do passaporte vacinal, dois dos mais recentes cavalos de batalha do bolsonarismo.

Como se o despautério fosse pouco, o ministério ainda incentiva que o Disque 100, canal governamental de denúncias de violações dos direitos humanos, seja usado por aqueles que não se vacinam para relatar "discriminações" sofridas —o que além de deturpar o serviço pode vir a sobrecarregá-lo.

Traz algum alento que ao menos órgãos de Estado sigam fazendo a sua parte. Nesta sexta (28), a Anvisa enfim autorizou no país o uso dos autotestes. A iniciativa, contudo, será de pouca valia para o controle da pandemia se não houver uma distribuição massiva e gratuita dos produtos à população.

Restringi-los ao uso comercial, como defende o Ministério da Saúde, só beneficiará uma pequena elite. Resta esperar que estados e municípios corrijam mais essa omissão flagrante do governo federal.

editoriais@grupofolha.com.br

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