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Ronan Wielewski Botelho

Corporativismo na informação

Somente a liberdade plena pode dar à imprensa o que constitui sua essência: a realidade

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Ronan Wielewski Botelho

Advogado, é criador do Movimento Reforma Brasil

O fim da democracia é vivermos em paz, e um dos meios para atingirmos este alvo é ter uma imprensa ampla, independente e livre. Enquanto a democracia precisar estar pronta ante a agressão injusta de pessoas que querem tomar o poder para si —o que ocorrerá enquanto existir a tríade: Estado, poder e dinheiro—, não poderá o jornalismo se furtar de levar informações verdadeiras ao povo.

Onde existe imprensa livre há luz no exercício do poder. Inclusive com viés pedagógico, o medo de vazamento nas Redações mantém as rédeas curtas de políticos desajustados com o compromisso que foram eleitos.

Não tem este artigo o objetivo de ofuscar o brilhante trabalho do jornalismo, mormente na pandemia. Se impõe respeito e admiração a estes profissionais, muitos infelizmente caíram em serviço acometidos pela Covid-19. Entretanto, é claro que a intenção deste texto é tecer críticas à imprensa brasileira. Separamos um ponto que acreditamos ser necessário à reflexão neste momento: o corporativismo profissional.

Em todas as categorias de trabalho há um associativismo natural e automático entre as pessoas. De certa forma, profissionais concorrem entre si no ofício diário; contudo, unem-se contra ofensivas estranhas à categoria. Frise-se que é uma prática habitual de todos os grupos, inclusive jornalistas.

Até então, por respeito e inteligência, não tínhamos apontamentos de citações pejorativas entre a grande mídia brasileira. Cada Redação elaborava a sua visão de determinada matéria, sem ofender, comparar ou citar um outro profissional ou grupo de jornalismo. Entretanto, este elo entre Redações foi quebrado no governo Jair Bolsonaro.

Meios de comunicação tradicionais, como a Gazeta do Povo e a Jovem Pan, aparentemente após "alugarem" suas concessões ao bolsonarismo, perderam totalmente a linha do corporativismo e passaram a nominar e desqualificar seus pares.

Tudo porque, em vez de explicar os atos do presidente da República, apoiadores fazem a tarefa de desqualificar o tema de outro jornalista; nominando e adjetivando de forma pejorativa. Exatamente como nos vídeos amadores da internet, onde uma pessoa reage a uma imagem ou determinado fato. Ou seja, não se tem o trabalho de produzir informação, apenas de destruir.

Esta "nova imprensa", apesar de ser moralmente ruim, é legítima dentro do Estado democrático de Direito. A crítica, mesmo que traiçoeira, é aceitável. O que não pode continuar a acontecer é que o corporativismo impeça que haja tréplica ou até debate direto de ideias, como, por exemplo, de uma Redação desmentindo fake news da outra.

Somente a liberdade plena pode dar à imprensa o que constitui sua essência: a realidade. Por mais elevadas que sejam as qualidades intelectuais de uma Redação, faltam a força moral, a energia e a liberdade nestes jornalistas para criticar seus pares por distorcer informações, e assim jamais poderá a democracia prosperar. É o momento de partir para a briga entre o certo e o errado. De dar nome aos bois.

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