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O que a Folha pensa Rússia

Ajuste na globalização

Guerra induz mudanças nos mercados; para o Brasil, pode ser uma oportunidade

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Campo de exploração de petróleo na Rússia - Sergei Karpukhin - 27.jul.17/Reuters

A guerra da Ucrânia não modifica apenas os termos do debate sobre o ritmo e o custo da transição para energias mais limpas. Também recoloca no alto das preocupações nacionais o problema da segurança política do abastecimento de combustíveis, alimentos e minérios e metais estratégicos.

As sanções financeiras à Rússia, que teve parte de suas reservas em moeda forte confiscadas por EUA e aliados, criam mais dificuldades para a globalização. A integração é problemática desde a crise de 2008; com a epidemia, vieram novos óbices, vide a disputa por materiais médicos e o estrangulamento das cadeias de abastecimento.

Tais questões têm importância crucial para o Brasil. O país pode se oferecer como fornecedor confiável, desde que comprometido com a estabilidade democrática, a responsabilidade ambiental, a abertura econômica, o respeito a contratos, a regulação adequada e a proteção de investimentos. Como se vê, há muito a avançar.

O destino da crise ainda é nebuloso, mas decisões já estão sendo tomadas; a geopolítica logo exigirá outras. Até o final do ano, a União Europeia pretende reduzir em 64% suas importações de gás russo, que representaram até 40% do consumo da região em anos recentes. Até 2027, quer redução de 100%.

A transição verde impunha custos iniciais. Com a guerra, é possível que tenha de ser desacelerada ou venha a custar mais. A Europa precisará construir infraestrutura para receber gás natural líquido no lugar de gás encanado.

Painéis solares, turbinas eólicas e baterias demandam combustíveis fósseis e metais. Ao trocar de fornecedores, a União Europeia pressionará preços mundiais e, assim, dificultará o plano da China de usar menos carvão e petróleo.

A crise levou o presidente dos EUA, Joe Biden, a pressionar petroleiras americanas pelo aumento da exploração —os EUA ora produzem menos petróleo do que em 2019. Na política do país, ressurgiram queixas contra o plano de energia mais limpa. Por fim, Biden procura até reintegrar Venezuela e Irã ao mercado internacional.

As decisões sobre abastecimento de materiais essenciais tendem a ser mais marcadas pela política. Países com recursos disponíveis e que possam gozar de confiança, nas relações internacionais e na economia, talvez possam se aproveitar dessa nova realidade.

Essa é uma questão central para o Brasil, muito além da discussão contaminada por demagogia sobre o preço dos combustíveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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