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O que a Folha pensa Rússia

Guerra aos fatos

Não se confunda a máquina de falsificação de Putin com o que ocorre no Ocidente

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Mikhail Klimentyev/Reuters

Tornou-se um lugar-comum a máxima de que, na guerra, a primeira vítima é a verdade. Não se trata de um enunciado vazio de conteúdo, o que a invasão militar da Ucrânia pela Rússia tem deixado patente.

O controle e a manipulação das informações em períodos bélicos justificam-se porque está em jogo a vida, a morte e a liberdade de uma nação, costumam argumentar os defensores desses estratagemas. De fato, a distorção propagandística e a censura à imprensa foram recursos utilizados por todos os lados em conflitos passados.

Sobre o atual confronto no Leste Europeu, por vezes se nota viés favorável à Ucrânia em veículos e comentaristas ocidentais. Isso ocorre seja porque o desgaste da Rússia interessa aos serviços de inteligência de países como EUA e Reino Unido, fontes frequentes do noticiário, seja porque há afinidades óbvias entre povos democráticos.

Nesses quadros parciais, as defesas ucranianas podem exibir mais força e eficiência do que possuem na realidade, e os russos, menos capacidade e competência militar do que de fato detêm. Através desses filtros, os efeitos colaterais nada triviais para as economias do Ocidente das sanções contra Moscou amiúde aparecem suavizados.

Seria um despropósito, no entanto, deixar de notar que estão presentes nas próprias engrenagens dos regimes abertos democráticos os antídotos para esse gênero de má comunicação. Há ampla liberdade de crítica e de imprensa; organizações públicas e privadas dedicam-se sem embaraços a fiscalizar os Poderes constituídos.

Pouco disso ocorria na autocracia de Vladimir Putin em situação de paz. Nada disso funciona agora, com a mobilização de guerra. A máquina de falsificações, de censura e de repressão à crítica e à livre expressão do Kremlin converge para o padrão da ditadura soviética.

Quem mencionar a palavra "guerra" para referir-se à agressão contra a Ucrânia ou divulgar o que o governo considerar notícia falsa está sujeito a prisão. A propaganda de Putin —de que os militares estariam apenas defendendo russos étnicos de "genocídio" perpetrado por "neonazistas" na Ucrânia— atinge sem contrastes a massa dos telespectadores na Rússia.

O soerguimento de uma cortina de fumaça para confundir o que ocorre no regime russo em termos de desinformação, de um lado, com a veiculação de informações distorcidas ou parciais na mídia ocidental, do outro, só interessa aos defensores do autoritarismo.

Como não há dúvidas sobre quem é a agressora —a Rússia— e quem é agredida —a Ucrânia— no conflito, tampouco as há sobre quem representa o silenciamento do que não é conveniente ao tirano nesse episódio: Vladimir Putin.

editoriais@grupofolha.com.br

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