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Manhã e tarde na escola

SP acerta ao ampliar ensino em período integral, mas uso do tempo causa dúvidas

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Escola Estadual Orlando Geríbola, em Osasco (SP), que se tornou integral em 2022 - Karime Xavier/Folhapress

Uma rara boa notícia no campo da educação, uma das áreas que mais sofreu com a pandemia, é que o ensino em tempo integral está avançando. No estado de São Paulo havia, em 2019, 364 instituições funcionando sob esse modelo. Hoje, são 2.050, cobrindo 24% dos alunos.

Às vésperas de deixar o cargo de governador, João Doria (PSDB) prometia levar o horário estendido a mais 950 escolas até 2023, o que corresponderia a uma cobertura de 40% dos estudantes.

Outras unidades federativas também estão ampliando rapidamente o número de escolas que funcionam em tempo integral, especialmente no ensino médio, em consonância com a lei de 2017 que reformou essa etapa do aprendizado.

O paradigma aqui é Pernambuco, que, em 2004, lançou um projeto-piloto para melhorar a qualidade da educação e diminuir a evasão, que incluía o aumento da jornada escolar. Os resultados foram tão vistosos que, quatro anos depois, o ensino integral já era política do estado, onde, hoje, 75% dos estudantes do ensino médio frequentam escolas com jornada ampliada.

Em 2007, Pernambuco ocupava o 21º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ciclo médio. Em 2015, atingiu o 1º lugar e, desde então, tem-se mantido entre as primeiras posições. Os índices de abandono e de desigualdade de aprendizagem também caíram.

Verificou-se, ainda, que melhorou o desempenho dos alunos que passaram para o ensino superior.
Praticamente todos os países que vão bem nas avaliações globais têm jornada de pelo menos sete horas —enquanto, no modelo tradicional brasileiro, são em média cinco.

Há motivos para inquietações específicas. Uma das razões para o modelo pernambucano ter funcionado é que houve uma expansão acentuada da carga horária das disciplinas de português e, principalmente, matemática, que foram de 20% e 50% respectivamente.

Já o modelo paulista não repete essa fórmula de sucesso. Alunos até poderão dedicar mais tempo a essas matérias, mas no âmbito de seu atendimento individualizado, não como política das escolas.

Nesse programa, o tempo extra será dedicado a matérias eletivas e sessões de orientação. A carga horária básica de português e matemática é a mesma nas escolas integrais e nas regulares.

É verdade que isso está de acordo com o espírito da reforma de 2017, que chegou até mesmo a limitar a um máximo de 1.800 horas anuais o período destinado às matérias básicas. O tempo dirá se essa foi uma boa escolha.

editoriais@grupofolha.com.br

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