A escolha de José Mauro Coelho para comandar a Petrobras não põe fim à crise entre o Planalto e a petroleira.
Sim, a gasolina está pela hora da morte. Sim, é preciso criar mecanismos para conter o preço. Mas há que se ter em mente que a companhia é privada e tem milhares de acionistas financiando sua operação —pais de família, inclusive, que contam com esse rendimento para sua aposentadoria ou sustento.
Para quem investe na empresa, é inaceitável que ela deixe de faturar toda vez que retarda e dá desconto nos reajustes. Ou que os dividendos dos acionistas sejam reduzidos por causa da cartilha de contenção de preços no ano eleitoral.
É possível discutir o uso dos dividendos e royalties pagos à União —controlador da Petrobras— para fazer política pública e baixar a gasolina. Zé Mauro, como o novo presidente é conhecido no mercado, sabe que será fritado se não conseguir uma saída para esse dilema —defender o interesse da empresa ou o do Planalto.
Com Bolsonaro pré-candidato será mais difícil escapar dessa mistura entre o público e o privado. O presidente assume abertamente que tenta interferir na Petrobras para ficar bem com o eleitorado, ainda que isso abra um rombo nas contas da petroleira. O que ele tenta fazer com o caixa da empresa agora, visando o sucesso nas urnas, produz o mesmo resultado dos esquemas de corrupção outrora denunciados.
A companhia deixou de faturar ao menos R$ 17 bilhões no acumulado de 12 meses (até fevereiro) com atrasos e descontos nos repasses da alta do petróleo aos combustíveis.
Segundo a Lava Jato, 17 acordos de leniência de empreiteiras envolvidas em desvios buscaram a devolução de R$ 12,5 bilhões à Petrobras.
Do ponto de vista legal, ingerência e roubalheira são coisas diferentes. No entanto, ambas são formas de financiar planos de poder.
Se for diligente no cargo, o presidente da companhia, seguramente, enfrentará novos conflitos. É uma questão de tempo.
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