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O que a Folha pensa desmatamento

Amazônia recortada

Milhões de quilômetros de vias clandestinas reforçam tese de colapso de chuvas

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Área com estradas e corte de madeira perto da BR-319 em Realidade (AM) - Ueslei Marcelino - 22.ago.19/Reuters

A Amazônia abarca 4,2 milhões de km² só no Brasil, quase metade do território nacional. Mesmo diante dessa enormidade, não deixa de suscitar espanto a revelação de que a rasgam 3,46 milhões de quilômetros de estradas, pelo grau de devastação que a cifra sugere.

Tal extensão equivale a nove vezes a distância da Terra à Lua, como assinalou reportagem da série Planeta em Transe, publicada pela Folha. O dado contrasta com o registro oficial de somente 39 mil km de vias na floresta amazônica.

Dito de outro modo: são clandestinas estradas de mais de 3 milhões de quilômetros. A maioria dos caminhos é desconhecida do Estado e atesta a condição de terra sem lei na porção brasileira da maior floresta tropical do globo.

Os dados preocupantes surgiram em levantamento de pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com base em imagens de satélite. O estudo saiu publicado no periódico especializado Remote Sensing.

Não haveria problema se tais rodovias cumprissem apenas o papel usual de facilitar o trânsito de pessoas e mercadorias. Na Amazônia, contudo, elas estão intimamente associadas com desmatamento.

Nada menos que 55% desses sendeiros clandestinos se encontram em propriedades privadas. Muitos estarão servindo à extração ilegal de madeira, à qual em geral se segue um ciclo de ressecamento, degradação e derrubada da mata.

A devastação prossegue com a abertura de pastagens e a introdução da pecuária extensiva, pouco produtiva. Nas áreas de solos melhores e topografia favorável à mecanização, as terras são vendidas para cultivos de grãos, mas boa parte acaba abandonada.

Esse empobrecimento insidioso não entra no cômputo de desmate realizado pelo sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Pela estatística oficial, quase 20% do bioma já perdeu a cobertura florestal.

A ciência aponta que, ao alcançar 25% de destruição, a floresta amazônica como a conhecemos —chuvosa, biodiversa e sumidouro portentoso de carbono— poderá entrar em colapso. Nesse cenário, a espiral de emissões de gases do efeito estufa sairá do controle, turbinando o aquecimento global.

O quadro se agrava com o antiambientalismo do governo Jair Bolsonaro (PL), que rendeu mais um triste recorde na segunda (22) —o maior registro de queimadas em um único dia de agosto desde 2017.

editoriais@grupofolha.com.br

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