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Pedro Kelson

As eleições que queremos

Democratas não podem permitir que o debate programático seja eclipsado

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Pedro Kelson

Mestre em cultura política e capital social, é coordenador de articulação do Pacto pela Democracia

O último dia 11 de agostoentrou para a história da democracia brasileira. Um marco na trajetória de resistência do campo democrático e mais uma demonstração da força e da capacidade de mobilização da sociedade civil. Uma articulação que teve início um ano antes, em um improvável encontro entre atores políticos de naturezas divergentes, empresários, intelectuais e representantes do Pacto pela Democracia.

Daquele encontro nasceu a mais ampla mobilização política desde a redemocratização, com o convite para "deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática".

Público na leitura dos manifestos pela democracia na Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, no centro de São Paulo - Bruno Santos - 11.ago.22/Folhapress

O ineditismo no fato de banqueiros, industriais, sindicalistas, pesquisadores e lideranças populares compartilharem um mesmo palanque na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, só encontra equivalente no movimento pelas Diretas Já, em 1985.

Os atos do último dia 11 ocorreram cinco dias antes do início oficial da campanha eleitoral de 2022, pleito este com importância histórica ímpar dado o clima de ataques ao sistema Judiciário e ameaças de rupturas democráticas por parte do presidente da República.

Para além da defesa das eleições e da democracia, é fundamental que consigamos avançar. E o processo eleitoral é o momento chave nesse contexto. O quão mais pacífico, plural, diverso, íntegro e participativo forem os debates e a escolha política, mais legitimidade teremos em nosso novo ciclo de mandatos.

É para isso que dezenas de iniciativas da sociedade civil, de diferentes setores sociais e espectros ideológicos, têm apontado quando apresentam iniciativas de qualificação do pleito. As ações de combate à violência política (em especial contra mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+) são fundamentais para melhorar a nossa representação política, bem como aquelas iniciativas dedicadas a combater a desinformação nas mídias sociais, ponto nevrálgico para o aprofundamento de um debate público sério e de qualidade.

Democratas, à esquerda e à direita, não podem permitir que o debate programático seja eclipsado pelo questionamento da integridade do nosso sistema de votação, comprovadamente íntegro e seguro.

É fundamental que consigamos dar visibilidade e voz para os debates temáticos, amplamente propostos pela sociedade civil. Cartas-compromisso e propostas de políticas públicas têm sido produzidas por organizações de todo o Brasil para pautar debates sobre meio ambiente, combate à corrupção, segurança pública, saúde, educação e tantos outros temas importantes para o desenvolvimento nacional.

Instituições de Estado, empresas de mídia e a sociedade civil devem estar unidas em sua diversidade para garantir a construção de um ambiente de debate que dê centralidade a essas pautas, combatendo a disseminação de desinformação e ataques à democracia, que servem apenas como cortina de fumaça para cobrir aquilo que realmente importa.

Essas ações estão sendo mapeadas e sistematizadas pelo Pacto pela Democracia na nova edição da plataforma Eleições Melhores, que acaba de ser lançada. Criada no contexto das eleições de 2018, mira na qualificação do processo eleitoral. Nesse espaço em constante atualização, estão reunidas até agora cerca de 70 iniciativas com os mais variados objetivos, que reúnem pautas relativas às questões de gênero e diversidade até defesa ambiental e dos direitos humanos.

"Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia", afirma a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito. Que apostemos nos frutos que se nutrem dessa consciência para avançar com a nossa jovem democracia. Que nessas eleições, recém-iniciadas, possamos reafirmar o compromisso de um Estado de Direito.

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