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O que a Folha pensa Datafolha

Um valor popular

Em mais de 30 anos de pesquisas, Datafolha atesta o enraizamento da democracia

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Ato de 11 de agosto pela democracia, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

O autoritarismo em voga no Ocidente procura atribuir aos interesses egoístas de uma pequena elite a defesa dos valores da democracia liberal. Seria uma forma de esse grupo minoritário manter seus privilégios, a contrapelo dos anseios da maioria da população.

Uma série de pesquisas realizadas pelo Datafolha desde 1989 fulmina essa mistificação. O instituto mostra que o apoio à democracia como a melhor forma de governo sempre foi prevalente entre os brasileiros e veio se tornando francamente majoritário conforme os anos se passaram. Quanto mais se experimenta o regime, mais ampla, profunda e firme é sua aceitação.

Os pesquisadores que foram a campo na semana passada colheram a preferência irrestrita pelo sistema democrático de três em cada quatro entrevistados no país. O indicador retomou o nível mais elevado dos 33 anos em que a mesma pergunta tem sido realizada.

Já o movimento dos que entendem ser melhor a ditadura em algumas circunstâncias descreveu a trajetória oposta nesse longo período. A ideia chegou a ser apoiada por 23% em setembro de 1992, mês em que a Câmara dos Deputados abriu o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, mas agora recebe o endosso de apenas 7%, a cifra mais baixa já atingida.

Esse índice diminuto de concordância com uma aventura autoritária atravessa todos os estratos de renda e escolaridade e se verifica nas cinco regiões. A democracia no Brasil, portanto, tornou-se um valor genuinamente popular.

Por isso os reiterados cabeceios golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) dão invariavelmente em nada. A centelha cesarista não encontra substrato na sociedade para se propagar. Ou ele obtém mais votos que seus adversários em outubro, e por essa via o segundo mandato, ou vai para casa. Não existe uma terceira opção.

Não por acaso, o efeito de investir na baderna detectado nas pesquisas é a perda de apoio popular, o que distancia o presidente do objetivo de permanecer no Planalto.

Talvez com olhos nessa equação Bolsonaro esteja sugerindo que irá se comportar neste 7 de Setembro mais como candidato comum do que como o arruaceiro subversivo de 2021. Sua afirmação no sábado (20) de que respeitará o resultado das urnas caso perca, a despeito de não refletir os seus instintos, também homenageia o realismo.

Será muito melhor para o país, obviamente, se ocorrer o ritual civilizado da aceitação da derrota.
Mas vale frisar que o ordenamento democrático brasileiro, porque enraizado nas instituições e nos valores da população, vai se impor mesmo na eventualidade de o candidato derrotado recusar-se a reconhecer o vencedor.

editoriais@grupofolha.com.br

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