Amantes todos os dias

A incompletude humana (uma bênção!) nos move à busca incessante pelo amor

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Becky S. Korich

Advogada, dramaturga e cronista do blog www.quarentenando.com

São tantas as homenagens que nosso calendário presta que já não cabem nos 365 dias do ano. É uma lista enorme que não para de crescer. Dia Nacional do Biscoito, do Aperto de Mão, do Canhoto, da Abelha, da Cachaça, dos Solteiros, do Numismata. Hoje, 22 de setembro, é Dia do Amante.

Prefiro entender amante como quem pratica o ato de amar. A incompletude humana (uma bênção!) nos move à busca incessante pelo amor. Hoje é, portanto, o dia de todos nós: amantes, porque viventes. Podemos amar uma ideia, um livro, um esporte, uma música, um pet. Mas é imperioso amar pessoas, para que possamos continuar a amar todo o resto.

O amor nos salva da banalidade. Ambíguo e contraditório, só ele consegue ser generoso e narcísico ao mesmo tempo, fazer matéria bruta e refinada se fundirem, fazer loucura e lucidez caminharem de mãos dadas. É o maior de todos os mistérios: ama-se pelo cheiro, pela voz, pelo jeito de olhar, pela risada, pelo toque, pelo caminhar, pela umidade do ar que a pessoa expira. Ama-se pela perfeição inventada no outro. Os dentes desalinhados, a timidez, o calo na mão, a ruga da testa, o furo na camiseta. Ama-se por muito ou por muito pouco.

Disney inseriu beijos entre casais de homens e mulheres em desenhos animados pela primeira vez em "Star vs. As Forças do Mal". - Reprodução/Youtube

Mas não dá para amar quem se ama demais. Não dá para amar quem não faça rir, e não existe amor que não faça chorar. Não existe amor sem paz, mas não existe amor sem inquietação, e não existe amor que não restitua a paz que ele mesmo roubou. Não existe amor que não arrepie, não enraiveça, não envaideça, não enrubesça. Não existe amor se for pouco amor.

Acontece que só o amor não basta para ser amor. Tem que ter inteligência, tem que ter ação. Aguentar as chatices, as babaquices, a rotina, as carências, a falta de dinheiro, as inseguranças, os fedores. Tem que saber amar, querer amar.

Amar é escolher e ser escolhido todos os dias —e conseguir comemorar o 22 de setembro todos os dias do ano.

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