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O que a Folha pensa mudança climática

Ambiente ruim

Desmatamento cai 11%, mas Bolsonaro consolida patamar anual acima de 11 mil km

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Incêndio na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Rondônia - Christian Braga/Greenpeace

Não há boa notícia no dado de desmatamento anual na Amazônia anunciado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta quarta-feira (30), em que pese ter ocorrido diminuição da taxa. Foram ao chão 11.568 km² de florestas, recuo de 11% sobre os 13.038 km² da estatística anterior.

Consolidou-se o patamar de corte raso, na porção brasileira da maior floresta tropical do mundo, acima de 10.000 km² ao ano. As áreas devastadas vinham subindo paulatinamente no segundo governo de Dilma Rousseff (PT) e no de Michel Temer (MDB), mas desde 2008 não se alcançavam os cinco dígitos.

No péssimo ambiente legado por Jair Bolsonaro (PL) e seu infame ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, deu-se o retrocesso no momento em que a atmosfera do planeta Terra mais precisaria que o desmate retrocedesse. A destruição dessa biomassa, afinal, é a maior fonte brasileira de emissões de gases do efeito estufa.

O primeiro presidente pós-redemocratização a não ser reeleito deixa em seu rastro um total de 45.586 km² de devastação no período compreendido entre 2018-2019 e 2021-2022 (o cômputo do Inpe se faz de agosto a julho de cada ano). Sua média anual foi de mais de 11 mil km², alta de 60% sobre o quadriênio anterior, de acordo com o Observatório do Clima.

Não surpreende que o governo federal mais uma vez tenha recorrido à sonegação de informações às vésperas de uma COP (a de número 27, no Egito, encerrada em 20 de novembro). A nota técnica do Inpe traz a data de 3 do mês passado, mas o Planalto segurou o dado por quatro semanas, como se isso pudesse diminuir-lhe a gravidade.

O atual titular da área, Joaquim Leite, teve o desplante de dizer à Folha, na COP27, que não fazia ideia da taxa do Inpe. Evasiva, possivelmente, ou um ministro desinformado, na melhor das hipóteses.

Não que ele ou Bolsonaro parecessem preocupados com a posição de párias internacionais. Tanto é que Leite deixou a conferência egípcia no momento mais crucial da negociação, reafirmando o descaso com a história de protagonismo do Brasil no esforço planetário para conter o aquecimento global.

A cada ano que passa, a janela para conter o pior da mudança climática se estreita, e cabe a cada país —mormente o Brasil, que pode reduzir emissões ao mesmo tempo em que preserva seu patrimônio de biodiversidade— contribuir para evitar eventos climáticos que já vão desgraçando contingentes crescentes.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assume tendo a seu favor expectativas favoráveis da comunidade internacional, não deixará de enfrentar um desafio hercúleo também nesse caso.

editoriais@grupofolha.com

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