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Chance aproveitada

Lula tira partido da expectativa favorável e faz discurso bem preparado na COP27

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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fala na COP27 - Mohammed Salem/Reuters

Recebido com grande expectativa positiva, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), soube aproveitar sua passagem pela 27ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, no Egito, para a tarefa de recompor a imagem e a relevância perdidas pelo Brasil na arena ambiental.

Na quarta (16), em meio a uma agenda repleta de encontros, Lula proferiu um discurso bem formulado, que teve o papel tanto de um cartão de visitas da nova gestão como de uma lista de promessas a serem cobradas no futuro.

O presidente eleito contava com o momento e o público perfeitos para se contrapor ao desastre bolsonarista na área climática —e ele o fez num pronunciamento meticulosamente preparado, que contemplou os principais nós do debate global e num tom, a uma só vez, contundente e conciliador.

No pronunciamento, o petista buscou, em contraste evidente com Jair Bolsonaro (PL), enfatizar a necessidade de aprofundar o multilateralismo para lidar com um problema que, em última instância, se afigura planetário.

Ao mesmo tempo em que frisou que o aquecimento em curso afeta a todos, soube também reconhecer que suas consequências recaem com maior intensidade sobre as populações mais vulneráveis.

Evitou ainda incorrer em falsos dilemas. Defendeu que o agronegócio e a preservação ambiental devem caminhar juntos, que aceitar a cooperação internacional não implica abdicar da soberania e que é possível gerar riqueza explorando a biodiversidade amazônica sem que isso termine por prejudicar nosso patrimônio natural.

No campo das promessas, Lula se comprometeu a fazer da questão climática um eixo de seu mandato e assumiu a inglória missão de acabar com o desmate até 2030.

Para tanto, apontou a necessidade de fortalecer os órgãos de fiscalização esvaziados por Bolsonaro e impor novamente a lei na Amazônia. Por fim, confirmou a criação do Ministério dos Povos Originários, cujo papel, além do simbolismo, ainda não parece claro.

O discurso, como seria de esperar, foi bem recebido mundo afora. Mas o país só será capaz de reassumir o protagonismo ambicionado se Lula conseguir colocar suas palavras em prática.

Apesar do passado de realizações que o petista tem para ostentar, não faltaram contradições e recuos em seus dois governos, simbolizados na saída conflituosa de Marina Silva (Rede) do Ministério do Meio Ambiente, em 2008.

Agora, reconciliado com Marina, Lula tem uma tarefa mais difícil do que há duas décadas. Precisará enfrentar no Congresso as pressões de uma bancada ruralista fortalecida, bem como um cenário de banditismo na Amazônia. A seu favor, será facílimo desenvolver políticas e obter resultados melhores que os de Bolsonaro.

editoriais@grupofolha.com.br

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