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À falta de opção, Bolsonaro reconhece a derrota na eleição e desencoraja arruaça

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Presidente Jair Bolsonaro faz pronunciamento no Palácio da Alvorada, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

O pronunciamento de Jair Bolsonaro (PL) sobre o resultado da eleição deve ser compreendido como um reconhecimento tácito de que não existe nada que ele possa fazer para reverter a derrota sofrida.

Ao quebrar quase dois dias de silêncio nesta terça (1º), Bolsonaro agradeceu aos 58 milhões de eleitores que o sufragaram, festejou o avanço de seus aliados no Congresso Nacional e destacou o surgimento de novas lideranças da direita.

Não mencionou o adversário vitorioso, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas prometeu cumprir a Constituição como presidente da República e como cidadão. Com o anúncio do processo de transição de governo, feito em seguida pelo ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, a derrota estava reconhecida.

Ao mencionar os manifestantes antidemocráticos que, inconformados com o resultado das urnas, bloquearam estradas em vários pontos do país nos últimos dias, considerou sua indignação justificada, mas repudiou o cerceamento imposto à liberdade de ir e vir.

A arruaça teve início na noite de domingo (30), quando se conheceu a definição do segundo turno, e se alastrou com intensidade no dia seguinte, causando prejuízos e transtornos em toda parte.

No episódio, a atuação dos agentes federais responsáveis pela segurança nas rodovias gerou não poucas dúvidas e críticas, inclusive no Ministério Público Federal.

Por dois dias, o silêncio do presidente alimentou boatos, fantasias golpistas e teorias conspiratórias de todo tipo, talvez encorajando alguns seguidores mais fanáticos a engrossar os protestos inúteis, como se o país estivesse à beira de uma conflagração.

Dada a omissão de autoridades, foi necessário que a cúpula do Poder Judiciário impusesse a lei contra a baderna, determinando a desobstrução imediata das estradas e autorizando o emprego das polícias militares estaduais para tanto.

O plenário do Supremo Tribunal Federal formou em minutos a maioria necessária para referendar a correta decisão do ministro Alexandre de Moraes, que mandou agir contra os desordeiros na segunda (31). A normalidade começou a voltar horas após a entrada das polícias estaduais em ação.

Enquanto Bolsonaro se mantinha recluso no Palácio da Alvorada, magistrados, líderes do Congresso, governadores e empresários se mobilizaram para restaurar a ordem e convencê-lo a fazer seu pronunciamento.

A demora do gesto decerto não engrandeceu a gestão de Bolsonaro, mas isso não importa mais.

editoriais@grupofolha.com.br

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