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Eleições para Legislativo e estados indicam que Lula terá de fazer concessões

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Comércio de toalhas e produtos relacionados às campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o primeiro a obter um terceiro mandato por meio do voto, e Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro presidente a perder a reeleição. O conjunto dos ineditismos de 2022, porém, não configura situação política favorável para o recém-eleito.

Lula volta ao poder com a maioria mais diminuta de um presidente desde a redemocratização. O incumbente foi derrotado pela repulsa de metade do eleitorado, mas não deixou de obter votação expressiva, tendo a seu favor a queda do desemprego e da inflação.

Dado o resultado das urnas, o petista chega ao poder com menos capital eleitoral e popularidade para queimar. Terá, assim, menos tempo para elaborar um programa de aceitação nacional mais ampla, urgência extremada pela situação social e econômica.

Lula terá de lidar com um Congresso de composição inédita na República de 1988. Partidos do velho centrão, de centro-direita e direita dominam cerca de metade da Câmara, ao menos. O centro e partidos tradicionais como MDB e PSDB perderam peso relativo ou se tornaram diminutos. A esquerda teve o pior resultado desde 1998.

O Senado tem um bloco de 35 parlamentares de PL, União Brasil, PP e Republicanos. Um outro grupo mais centrista, de MDB, PSD e PSDB, tem 24 cadeiras. O PT e seus aliados tradicionais à esquerda, 13. Embora a casa seja mais ponderada do que a Câmara, a negociação ali será também penosa.

Filiações partidárias são maleáveis e sujeitas a condições tais como a popularidade presidencial ou a barganha de poder. O ponto de partida, porém, indica que o custo de convencimento será maior, tanto mais porque parte relevante dos eleitos têm compromissos mais estritos com um eleitorado conservador ou reacionário.

No comando dos estados, a esquerda teve também seu pior resultado desde 1998. A relação dos governadores com o Executivo federal, porém, costuma se dar em termos algo mais construtivos, por interesse de cooperação administrativa e de repartição de fundos.

Registre-se que até o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que conquistou o Palácio dos Bandeirantes, declarou que pretende trabalhar em harmonia com o governo petista de Brasília.

É fácil perceber que Lula terá de negociar cargos e planos a fim de montar uma coalizão parlamentar, conquistar eleitores oposicionistas, manter aqueles que aderiram a sua candidatura por rejeição a Bolsonaro e obter apoios sociais que fundamentem esses movimentos políticos.

O presidente eleito tem reafirmado que seu governo irá muito além do PT. Trata-se um bom ponto de partida, mas a tarefa será árdua.

editoriais@grupofolha.com.br

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