Descrição de chapéu Congresso Nacional

É hora de prestar atenção ao Congresso

Orçamento secreto abriu precedente para a adoção de processos desprovidos de controle social

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Beatriz Rey

Doutora em ciência política, pesquisadora sênior no Núcleo de Estudos sobre o Congresso (Necon) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora associada à Fundação POPVOX, nos Estados Unidos

Em janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva se deparará com um Congresso diferente daquele que encontrou em seu primeiro mandato. Para começar, temos um Legislativo (em tese) conservador, o que exigirá de Lula negociações intensas com partidos de centro e direita para aprovar a sua agenda.

Além disso, o Congresso está mais empoderado como formulador de políticas públicas e contrapeso ao Executivo. Em 2009, pela primeira vez desde a redemocratização, os parlamentares aprovaram mais projetos de lei e projetos de lei complementar de sua autoria do que da Presidência. Os congressistas também reduziram o poder de coordenação e de barganha do Executivo com reformas que desincentivaram o uso de medidas provisórias e tornaram impositivas as emendas orçamentárias individuais e coletivas.

Prédio do Congresso Nacional, em Brasília - Antonio Molina/Folhapress

Se naquela época o processo de fortalecimento do Legislativo corria por vias institucionais, durante o governo Jair Bolsonaro ocorreu o contrário. O uso do orçamento secreto por parte do governo para formar apoio legislativo se deu de maneira não-transparente e informal. Tal arranjo aumentou ainda mais o poder do presidente da Câmara dos Deputados, que já concentrava prerrogativas excessivas e foi em grande parte responsável pela definição dos beneficiários dessa verba.

Nos últimos anos, o presidente da Câmara se sobrepôs constantemente ao presidente da República
(e não o contrário, como ocorria antes). O orçamento secreto também abriu precedente para a adoção de processos desprovidos de controle social, quase isolados dos olhos da imprensa e da sociedade civil, na contramão de reformas anteriores.

Nos próximos anos, será preciso acompanhar de perto a eleição para as presidências das casas legislativas, a distribuição de comissões entre os partidos, a aplicação dos regimentos internos pelos presidentes eleitos no dia a dia, a definição das agendas legislativas e os próprios debates travados nos plenários.

Também é fundamental compreender que instituições informais têm tanto peso quanto as formais na configuração do comportamento dos nossos parlamentares, o que exige atenção redobrada às minúcias do processo legislativo. Em detrimento do Executivo, o Legislativo sai do governo Bolsonaro com enorme influência nos rumos das políticas públicas do país. A política brasileira é mais do que nunca a política legislativa.

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