No último fim de semana, foi vandalizado em Salvador um monumento que homenageia tanto Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018), baluarte do candomblé e referência cultural brasileira, como a divindade que ela reverenciou em sua fé.
A estátua foi queimada na capital de um estado com 81% de população negra, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2018. Mas que não só não escapa das profusas manifestações de racismo evidentes todos os dias no Brasil, senão que evidencia as raízes profundas dessa chaga.
Os cultos de matriz africana continuam a ser vistos como "alheios" à identidade nacional e são clientes preferenciais da violência. O Observatório das Liberdades Religiosas, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, indica, por exemplo, que essas expressões representaram 91% dos casos de intolerância registrados no Rio de Janeiro no ano passado.
Dentro dessa lógica e em meio à erupção de ódio que o país atravessa, o monumento a Mãe Stella reúne a uma só vez três das principais vertentes que vêm alimentando esses discursos e que explodiram no debate público refletido nas redes sociais: xenofobia, intolerância religiosa e misoginia.
Mensagens xenófobas aumentaram 821% em relação a 2021; as de intolerância religiosa, 522%; e as misóginas, 184%, segundo a Safernet, ONG que mantém uma central nacional para a denúncia de crimes contra os direitos humanos na web.
Eleições são gatilhos para o crescimento da violência no ambiente virtual, detecta a organização, que sinaliza, pelo terceiro ano eleitoral consecutivo, "um crescimento constante e praticamente uniforme" desse tipo de discurso em comparação com anos em que não há pleitos nacionais.
Nesse contexto, o fim de semana do segundo turno, detalham, foi ainda mais intenso do que o do primeiro turno: entre um período e outro, as denúncias aumentaram 125,6%.
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