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Ricardo Viveiros

A notícia ruim

Rápida, certeira e fiel como um cão, é o estímulo da vida

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Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi) e “Educação S/A” (Pearson)

Diante de mais uma adversidade imposta pela vida, o diagnóstico de câncer, fico pensando se não devo me inspirar em algo que me ofereça ainda mais força para enfrentar a doença. Um bom exemplo de resistência, superação e êxito.

Escolhi a notícia ruim. Sim, essa vencedora! Ela é rápida e certeira. A começar que o seu suporte nasce em florestas plantadas, vira papel e nos chega pelas mãos de um emissário. E gera emprego, renda e lucro, não apenas para o crescente setor de entregas como também para os da saúde e do direito, em especial.

Em tempos digitais, a notícia ruim está revigorada, fortalecida pela internet. Chega ainda mais rápida, em alguns casos até com reforço artístico de um desenho ou foto. E, o mais grave, se espalha com imensa rapidez, ultrapassando barreiras de todos os tipos. Vencendo até mesmo os responsáveis organismos criados para checar a veracidade dos fatos informados pelas mídias sociais —essa terra de todos e ainda de ninguém.

o jornalista, escritor e professor Ricardo Viveiros - Greg Salibian - 17.set.14/Folhapress

A notícia ruim é tão impactante, causadora de inimagináveis reações, que entre outras consequências consegue contaminar o próprio emissário. Você fica com raiva de quem lhe informou, como se o transmissor tivesse culpa no conteúdo e em seus desdobramentos.

O ser humano tem uma tendência biológica de se interessar mais pelo ruim do que pelo bom. No Brasil dos últimos anos, esse fator comportamental teve o incentivo da pandemia de Covid-19, da cultura do ódio gerada pela polarização política e da crise econômica que vitimou milhões de pessoas.

A notícia ruim é fiel e próxima como um cão, porque também nunca nos abandona. Ela está ao nosso lado quase todos os meses do ano. Seja sobre gestão pública, sem dúvida a campeã de motivos; saúde; economia; violência; meio ambiente; e por aí vão os férteis campos que lhe dão origem.

A notícia ruim tem a competência de entender dificuldades e diante delas nunca esmorecer. Nem desistir. Volta —sem rancor— quando não é bem recebida e assimilada na primeira vez. Se não criar medo, comoção, desânimo, ela não se cala. Insiste até alcançar seus objetivos.

Ela, a notícia ruim, é quem nos incentiva a acordar cedo, estudar e trabalhar, ter planejamento, criatividade, empenho. Realizar! Com fé, esperança e vontade permanentes para superar desafios e adversidades.

A notícia ruim nos estremece, é certo, mas também tem o mérito de provocar reflexões que talvez nunca tenhamos feito. E promove crescimento, descobertas, transformações. O maior ensinamento da notícia ruim, algo que fortalece nossa capacidade de resiliência: ela sempre alcança o seu objetivo!

Portanto, como a notícia ruim (esse bom exemplo), serei vitorioso contra ela mesma. Além do que manter o humor é fundamental para motivar esperança e ter chance de neutralizar os efeitos de qualquer desânimo diante do fascinante mistério do existir.

Guimarães Rosa disse no personagem Riobaldo, de "Grande Sertão: Veredas", que viver é muito perigoso. E explicou: "Porque ainda não se sabe e porque aprender a viver é que é o viver mesmo".

Eu, aos quase 73 anos, sigo aprendendo. E feliz! Mesmo diante de notícia ruim, esse grande estímulo na luta pela vida.

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