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Sinais de Lula

Presidente acerta ao ampliar base além da esquerda, mas aliança será testada

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa no Congresso Nacional durante sessão de posse - Edilson Rodrigues/Agência Senado

Empossado na Presidência neste domingo (1º), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu os compromissos desejáveis com a democracia e a recuperação de áreas da administração arruinadas pelo antecessor. Seus discursos foram do enfrentamento à promessa de governar para todos, mas sempre pautados pelas bandeiras e teses petistas.

Não convém, de todo modo, tomar cerimônias do gênero como indicadoras de rumos do novo governo —e a principal questão colocada hoje é o quanto Lula estará disposto a rumar ao centro político para assegurar a governabilidade, manter a retomada da economia e superar a polarização estéril.

Nesse sentido, os sinais palpáveis mais recentes datam de três dias antes, na quinta-feira (29), quando enfim se completou o anúncio do ministério. Ali se conheceram os movimentos para expandir a coalizão situacionista para além dos costumeiros aliados à esquerda.

Os centristas MDB, PSD e União Brasil receberam 9 pastas, igualmente repartidas entre as legendas, de um total de 37. Podem-se incluir na conta 2 das 3 vagas do PSB no primeiro escalão, dado que o vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Márcio França (Portos e Aeroportos) estão longe do socialismo postulado na sigla.

Na teoria, a repartição da Esplanada amplia a base governista de 24,4% da Câmara dos Deputados —o que seria conseguido com os partidos à esquerda— para 55,9%, aí também incluídas outras agremiações a serem contempladas com cargos menos vistosos. No Senado, o ganho se mostra ainda mais expressivo, de 17,3% para 58%.

Trata-se de maiorias nada folgadas, abaixo dos 60% necessários para aprovar uma emenda à Constituição. Mais importante, a solidez da aliança está por ser testada.

Os laços de uma coalizão tendem a ser mais fortes quando há compartilhamento efetivo das decisões de governo, em vez de mera distribuição de postos e verbas. A esse respeito, será instrutivo observar o papel da emedebista Simone Tebet no comando do Planejamento.

A ex-presidenciável está entre os principais nomes da chamada frente ampla, composta por políticos e personalidades que apoiaram Lula no segundo turno. Sua pasta, responsável pelo Orçamento, pode ter voz ativa em providências decisivas, como a definição de uma nova regra de controle fiscal.

Na campanha, Tebet cercou-se de assessores econômicos de pensamento liberal. Uma eventual equipe com essa orientação faria contraponto evidente à Fazenda do petista Fernando Haddad.

Lula acertará se guiar seu governo pelo pragmatismo e pela racionalidade, acima de embates ideológicos, como conseguiu em seus melhores momentos do passado.

editoriais@grupofolha.com

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