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Tragédia yanomami

Descaso agravado sob Bolsonaro leva a crise de saúde chocante no território

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Crianças na Terra Indígena Yanomami, em Roraima - Divulgação/Condisi-YY

"A pior situação humanitária que já vi." Foi dessa forma que o médico tropicalista André Siqueira, da Fundação Oswaldo Cruz, descreveu o quadro de saúde dos yanomamis em Roraima.

De acordo com a pasta dos Povos Indígenas, contaminação por mercúrio, desnutrição e fome causaram as mortes de 570 crianças da etnia. Segundo o Ministério Público Federal, 52% das crianças sofriam de desnutrição no fim do ano passado —índice que chega a 80% em áreas de difícil acesso.

A fome agrava outros quadros de saúde. A pneumonia gerou um terço das mortes evitáveis de crianças yanomamis em 2022. Na população em geral, o número é bem menor —4,2% medidos em 2021.

Outro aspecto preocupante é que menos de um terço das crianças aptas para tratamento de verminoses o fez, segundo o MPF.

Não se trata de eventos naturais. A condição calamitosa é resultado direto de anos de políticas nefastas contra os indígenas, agravadas em especial durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Se a vulnerabilidade desses territórios não é recente, os níveis de agora são alarmantes. Relatório do Conselho Indigenista Missionário, de agosto de 2022, apontou que invasões e garimpos em áreas indígenas cresceram 180% sob Bolsonaro.

O garimpo aumenta o risco sanitário e nutricional ao permitir a circulação de vírus não comuns na população e diminuir a disponibilidade de terras férteis.

No apagar das luzes do governo anterior, o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, autorizou exploração de ouro em quase 10 mil hectares vizinhos à Terra Indígena Yanomami.

Ademais o acesso a medicamentos e tratamentos tem sido prejudicado. Investigação da Polícia Federal e do MPF aponta suspeitas de desvios de recursos públicos para compra de remédios, em especial vermífugos. Estima-se que o esquema deixou 10 mil crianças yanomamis sem assistência.

Como resposta, o Ministério da Saúde decretou estado de emergência na última sexta-feira (20) para planejar e coordenar ações em conjunto com gestores estaduais e municipais do SUS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que visitou o território, criou um comitê contra a crise.

A medida mais urgente é fornecer medicamentos e alimentos à comunidade indígena. O combate ao garimpo ilegal deve ser intensificado —sem o qual tragédias humanitárias como essa se repetirão— e os responsáveis por desvios de verbas precisam ser investigados e punidos no rigor da lei.

editoriais@grupofolha.com

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