A menos que nas próximas três semanas aconteça algo próximo a um milagre, o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva chegará aos 100 dias sem um grande anúncio que consiga ofuscar a bateção de cabeça na Esplanada e a desarticulação no Congresso que marcaram o início de governo.
Passada a comoção gerada pela tentativa de golpe de estado de uma parcela da população que vive em Nárnia, Lula 3 se viu às voltas com pautas negativas em série.
O presidente não soube dar uma resposta a contento aos muitos elos existentes entre a ministra Daniela Carneiro (Turismo) e milicianos no Rio de Janeiro, e precisou passar por cima de indícios igualmente expressivos envolvendo o ministro Juscelino Filho (Comunicações) —ambos da União Brasil.
E tudo em nome de uma governabilidade que parece cada dia mais utópica, a se depreender das falas do líder da União na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que diz que o partido não será base de Lula.
Sem nenhum teste oficial no Congresso, o governo conseguiu amealhar preocupações vindouras. Não terá maioria na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, e viu aliados cederem espaço ao PL na Comissão de Segurança Pública, no que promete ser fonte de dor de cabeça para o Planalto.
Como se não bastasse, os ruídos de ministros com Lula exigiram do Planalto operações para apagar incêndios.
Primeiro com Márcio França (Portos e Aeroportos), que anunciou um programa de passagens aéreas a R$ 200 sem aval do governo. Depois com Carlos Lupi (Previdência), com corte do teto do juro do consignado do INSS que gerou suspensão da linha por bancos.
Com todas as ressalvas, a aliança com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), parece ter sido uma das poucas decisões pragmáticas nos primeiros 100 dias de governo —ainda que tenha sido tomada na transição. Com todos os BOs para resolver, o governo não precisa se indispor com a pessoa que pode aceitar um pedido de impeachment contra Lula.
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