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Fio da navalha

Como Bolsonaro, Lula inicia mandato sem farta popularidade, mostra Datafolha

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Pedro Ladeira/Folhapress

O republicano Donald Trump foi o presidente dos Estados Unidos mais mal avaliado pela população desde o final da 2ª Guerra Mundial. Seu sucessor, o democrata Joe Biden, arrisca-se a ser ele o detentor da marca ao fim do governo.

Um quadro parecido se insinua no Brasil, a julgar pelos mais recentes números da popularidade presidencial divulgados pelo Datafolha. Foi-se o tempo em que uma ampla boa vontade acerca do governante no início do primeiro mandato prevalecia na opinião pública.

Três meses após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 38% consideram ótima ou boa a sua gestão, 30% a avaliam como regular, e 29% a qualificam de ruim ou péssima.

A foto final do primeiro trimestre revela-se apenas um pouco melhor que a de seu antecessor. Na mesma etapa, em 2019, Jair Bolsonaro, então no PSL, era aprovado por 32% dos brasileiros aptos a votar, e suas taxas de ruim/péssimo (30%) e de regular (33%) eram equivalentes às que o petista obtém hoje.

Ter diante de si reprovação inicial próxima do terço do eleitorado, como ocorreu com Bolsonaro e se repete com Lula, é uma anomalia num primeiro mandato. Antes da dupla, Fernando Collor foi o que granjeou mais antipatia, ainda assim com 19% de ruim ou péssimo.

Ninguém deveria ficar surpreso, no entanto, pelo resultado da pesquisa. Ele reflete, no plano imediato, o disputadíssimo certame eleitoral de 2022 e, no mais longínquo, as rivalidades crescentes que arrebatam expressivas parcelas da sociedade brasileira desde pelo menos os movimentos de rua de 2013.

Bolsonaro, como Trump, preferiu alimentar a hidra do sectarismo durante o mandato, o que nesse ambiente conflagrado oferece compensações de curto prazo ao líder narcisista. Colheu o mesmo fruto apodrecido de seu homólogo norte-americano: a derrota nas urnas e a associação a uma sublevação que depredou prédios públicos.

Com a vantagem de ter assistido de fora ao desastre bolsonarista, e o lastro de uma experiência sem par na política brasileira, o presidente Lula tem a oportunidade de trilhar um rumo diferente, que agregue em vez de dividir.

O começo deixou a desejar. Lula abraçou-se a velharias ideológicas, em especial no terreno crucial da economia, e afastou aliados e eleitores que acreditaram na promessa de uma "frente ampla".

Há tempo, claro, de corrigir a rota. Falar e governar tão somente para o segmento mais simpático e ideologizado não trará resultado diferente do que obteve Bolsonaro, acossado pela impopularidade durante todo o mandato.

Abaixo da superfície da divisão, há um país unido na expectativa de retomar a via para a prosperidade econômica com justiça social.

editoriais@grupofolha.com.br

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