Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Congresso Nacional

Xadrez central

Novo bloco rearranja forças na Câmara, mas agenda programática ainda é obscura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Foto mostra mesa diretora da Câmara rodeada de parlamentares, com o deputado sentado ao centro
Arthur Lira (PP-AL) preside votação na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF) - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

É peculiar da política brasileira a distinção entre o centro, campo de posições moderadas encontradiço em todas as democracias, e o centrão, que aqui tradicionalmente designa parlamentares e partidos dispostos a ajudar governos à direita ou à esquerda em troca de cargos e verbas públicas.

No Brasil, o centro se esvaziou eleitoralmente nos últimos anos de polarização entre bolsonaristas e petistas. Já o centrão tomou o controle do Congresso —particularmente com a consolidação de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara dos Deputados— e hoje não faz parte da base de sustentação ao Palácio do Planalto.

Entretanto as divisas entre centro e centrão nem sempre são claras, como demonstra um novo movimento no quadro partidário nacional capaz de afetar as relações entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Legislativo.

Cinco legendas —PSD, MDB, Republicanos, Podemos e PSC— decidiram atuar em bloco na Câmara, tornando-se a maior força da Casa com 142 dos 513 deputados. O caso mais surpreendente no grupo é o do Republicanos, que deixou o centrão para associar-se a duas siglas centristas, PSD e MDB, abrigadas no governo Lula.

De mais imediato, o novo bloco se torna um contraponto ao poder de Lira, que, eleito com um recorde de 464 votos dos colegas, hoje se acha no direito de desafiar até as normas constitucionais da tramitação de medidas provisórias para exercer sua influência.

Em tese ao menos, a articulação pode favorecer uma atuação do Republicanos, que tem 42 deputados e apoiou Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial, mais moderada ou menos hostil a Lula.

O nome de maior visibilidade do partido hoje é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas —que chegou ao posto com votos bolsonaristas, mas até aqui tem evitado radicalismos ideológicos em sua administração. Seu secretário de Governo é o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab (PSD), de notória flexibilidade política.

É cedo, claro, para prever os efeitos do novo quadro partidário da Câmara. O próprio Lira faz seu movimento ao buscar um entendimento entre o seu PP, ligado no centrão ao PL de Bolsonaro, e a União Brasil, o mais problemático dos partidos no ministério de Lula.

A melhor hipótese, dependente de boa dose de otimismo, é que fiquem mais claras as orientações programáticas, para além dos interesses fisiológicos imediatos, no xadrez de siglas da política brasileira.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.