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Kiev contra-ataca

Guerra entra em nova etapa com ofensiva aos russos e destruição de represa

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Região inundada após a destruição da represa Nova Kakhovka, em Kherson (Ucrânia) - Yan Dobronosov/Reuters

Após meses de protelação e, até agora, com tentativas frustradas de dissimulação, a Ucrânia enfim iniciou sua aguardada contraofensiva nas áreas ocupadas pela Rússia após a invasão de fevereiro de 2022.
Trata-se de uma nova, perigosa e vital etapa do conflito que mudou a geopolítica mundial.

A salva inicial de Kiev ocorreu em 4 de junho e intensificou-se ao longo da semana, com ataques probatórios contra o entrincheiramento russo em pontos supostamente mais frágeis da frente de 1.000 km de batalha estabelecida.

Dois dias depois, contudo, houve um dramático desenvolvimento no quadro, com a destruição da barragem de Nova Kakhovka, no rio Dnieper, precipitando um desastre humanitário e ambiental sem precedentes na Europa.

Dezenas de milhares de pessoas foram afetadas, com grandes áreas nas duas margens —uma controlada pelos ucranianos, a outra pelos russos— do curso d’água alagadas. Houve mortes, ainda em contagem, mas a implicação do episódio no longo prazo é enorme.

Lavouras perderam irrigação. Não há água potável para centenas de milhares de pessoas, segundo Kiev, e a queda no nível do reservatório da represa cortou o abastecimento da piscina que resfria os reatores da maior usina nuclear da Europa, Zaporíjia, que está em mãos russas desde 2022.

Por ora não há risco de uma nova Tchernóbil, mas o temor de desastre nuclear segue à espreita.

Moscou e Kiev se acusam mutuamente pela tragédia, que no papel favorece um pouco mais os russos do ponto de vista militar, não muito. Seja quem for o responsável, a magnitude do incidente em meio ao início da contraofensiva sinaliza o peso da ação.

Supõe-se que a Ucrânia vise cortar a ligação que a ocupação do sul do país permitiu entre Rússia e Crimeia —preciosa península anexada por Vladimir Putin em 2014.

Se for bem-sucedido, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, deixará o russo em situação militar e política bastante desconfortável.

Se fracassar, Kiev arrisca ver o apoio ocidental, exibido nos ataques bancados por bilhões de dólares em ajuda militar, transformar-se em um ponto de interrogação que só tende a crescer se o atual governo americano for derrotado nas urnas no ano que vem.

Mesmo o cenário mais provável, intermediário, sugere o prolongamento do conflito em termos que favorecem os vastos recursos da Rússia, levando à pressão por um armistício ao estilo do que se vê na península coreana desde 1953.

Muito está em jogo, e o mundo acompanha apreensivo o desenrolar em campo, da China aliada de Putin ao Ocidente, passando por não alinhados como o Brasil.

editoriais@grupofolha.com.br

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