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Vanguarda do atraso

Lula quer reeditar crédito a empresas que gerou calote de US$ 1,1 bi no BNDES

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Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Ricardo Moraes/Reuters

Longe dos holofotes mais potentes de Brasília, órgãos importantes do governo federal com sedes no Rio de Janeiro vão se convertendo em bunkers da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para abrigar ideias econômicas emboloradas ou equivocadas, numa espécie de vanguarda do atraso carioca.

Na semana passada, anunciou-se a indicação do economista Marcio Pochmann para o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Para ele, as reformas previdenciária e trabalhista são uma regressão e o Pix, uma estratégia "neocolonial" contra o Brasil.

A Petrobras também acaba de proclamar que dará preferência à indústria naval brasileira, reeditando política dos governos petistas que acabou interrompida por escândalos de superfaturamento.

Agora, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, sob a batuta de outro petista histórico, Aloizio Mercadante, quer ressuscitar créditos à exportação para serviços de engenharia de empresas brasileiras.

Nessas operações, o BNDES desembolsa recursos em reais para financiar companhias nacionais que vendem seus serviços (geralmente grandes obras) a países estrangeiros. Estes, por sua vez, assumem o compromisso de devolverem os empréstimos depois —com juros, pagando em dólar ou euro.

O programa existe desde 1998 e já somou US$ 10,5 bilhões (R$ 50 bilhões). Mas foi nos governos Lula 2 e Dilma Rousseff que ganhou envergadura, com 88% dos desembolsos concentrados entre 2007 e 2015.

No período, o expediente ajudou a injetar bilhões de reais nas cinco maiores empreiteiras brasileiras, que receberam 98% dos financiamentos. Mais tarde, elas acabariam apanhadas na Operação Lava Jato, acusadas de financiar campanhas petistas e de outros partidos —o que acabou levando à suspensão do programa em 2016.

O mais grave, no entanto, é que o PT usou empréstimos de um banco público para agradar líderes de ditaduras acusadas de violar sistematicamente direitos humanos, como os de Venezuela e Cuba, com os quais se alinha ideologicamente.

Como se isso não bastasse, os dois países deram calote no BNDES: US$ 722 milhões pelo metrô de Caracas e uma siderúrgica; e US$ 250 milhões pelo porto cubano de Mariel. Houve inadimplência também de Moçambique, elevando o total devido pela trinca a US$ 1,09 bilhão —valor que tende a aumentar, pois há mais US$ 518 milhões em vias de vencimento.

O BNDES sustenta que, desta vez, as regras para os créditos serão avaliadas com o Tribunal de Contas da União e apresentadas como projeto de lei ao Congresso. A basear-se na experiência pregressa e na atual situação fiscal, o melhor que os parlamentares podem fazer é simplesmente derrubar a ideia toda.

editoriais@grupofolha.com.br

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