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O que a Folha pensa

Lula na ONU

Discurso fincou-se em aspirações e potencialidades da sociedade brasileira

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa na Assembleia-Geral da ONU - Timothy A. Clary/AFP

A segura manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas reforça a impressão de que ele evitaria as derrapagens sobre temas de política externa se confiasse mais em planejamento e menos em improviso.

Raramente esse rito anual da ONU detém centralidade no grande jogo da geopolítica. A ausência dos chefes de governo de China, Rússia e Índia não contribuiu para fazer da sessão inaugural de 2023 uma exceção à regra.

No caso do Brasil, a expectativa estava naturalmente eriçada em razão de esta ter sido a primeira intervenção de Lula em seu terceiro mandato, após quatro anos de uma administração abrutalhada em assuntos diplomáticos, que se jactava de figurar como pária global.

O contraste deu-se como esperado. O governante do PT fincou os pilares do seu discurso em conhecidas aspirações e potencialidades da sociedade democrática brasileira. Destacaram-se o multilateralismo, o combate à pobreza e às desigualdades e a transição para a economia de baixo carbono.

Apresentar os primeiros indicadores de redução no desflorestamento amazônico e cobrar das nações desenvolvidas os instrumentos e recursos necessários e prometidos para alavancar esse processo é uma moeda de alto valor, a qual o mandatário brasileiro tem sabido utilizar nas suas comunicações com a comunidade internacional.

A menção discreta à Carta da ONU, violada com a invasão militar da Ucrânia pela Rússia, evitou a reincidência de Lula nas trapalhadas sobre o conflito no Leste Europeu. A Constituição de 1988, que elege os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a não intervenção como princípios das relações internacionais do Brasil, também poderia ter sido evocada.

O mundo tornou-se mais complicado do que era na primeira passagem de Lula pelo Planalto. A disputa entre o que o presidente chamou de "nacionalismo primitivo" e as correntes democráticas replica-se não apenas na relação entre as nações, mas também nas disputas políticas das sociedades abertas.

Cobra seu preço em desgaste a artimanha de declarar-se democrata da fronteira para dentro, mas afagar autocratas amigos fora. Por isso é sempre melhor centrar esforços naqueles temas que interessam sobretudo ao bem-estar material da população brasileira.

O Brasil não deveria tomar como prioridade a reforma da ordem global; seu papel na transição ambiental e energética será mais relevante. Manter relações diplomáticas e comerciais com todos os países e expressar, nos foros e na linguagem adequados, o seu apreço pelas liberdades civis e os direitos humanos é o melhor caminho a seguir.

editoriais@grupofolha.com.br

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