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De velhos e velhacos

Os 80 anos de Biden, presidente mais idoso dos EUA, voltam ao debate eleitoral

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Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Saul Loeb/AFP

"Sou velho, mas não sou velhaco", respondeu o deputado federal Ulysses Guimarães, um dos próceres da democracia reconquistada em 1985, à acusação de ser "senil e desequilibrado", feita por Fernando Collor de Mello em pleno processo que levou o então presidente da República a renunciar em 1992.

Ulysses, que naquele mesmo ano viria a desaparecer no mar em um acidente de helicóptero, não foi o primeiro nem o último a contestar o que hoje se convencionou chamar etarismo na política.

Nos Estados Unidos, palco de eleições cruciais no ano que vem, a idade do incumbente, Joe Biden, voltou com força ao centro do debate político. O democrata é, aos seus 80 anos, o mais idoso presidente que seu país já teve. Se reeleito, pode vir a deixar a Casa Branca contando 86 anos.

Já em 2020, quando derrotou o republicano Donald Trump, era chamado pelo rival de "Joe dorminhoco", uma maldosa referência a seus lapsos públicos. Não que o ex-mandatário, que a despeito dos processos que enfrenta deverá estar na disputa em 2024, seja algo próximo de um jovem aos 77.

Mas Trump sempre vendeu a imagem de dinamismo, enquanto os recorrentes tropeços, reais e metafóricos, assombram Biden.

Tanto é assim que pesquisa recente do Instituto Ipsos para a agência Reuters mostra que 77% dos americanos consideram o presidente muito idoso para o exercício do cargo, e apenas 39% acham que ele tem condições mentais para tal.

São impressões. Por mais que Biden troque Ucrânia por Iraque em discursos, não há notícia de decisão desastrosa tomada em seu governo a ser debitada a uma suposta senilidade. A preocupação é legítima, de todo modo.

Os avanços da medicina proporcionam vidas mais longas, em especial para quem tem acesso a tecnologias de ponta. Mas o declínio cognitivo ainda constitui um desafio.

Em grau menor, considerações sobre a idade do presidente tendem a se tornar mais comuns também no Brasil —onde Luiz Inácio Lula da Silva exibe disposição aos 77 anos, apesar de problemas de mobilidade que demandam cirurgia. Já recordista em longevidade no cargo, o petista deverá disputar um quarto mandato em 2026.

Nos EUA, a Casa Branca apelou para um chiste ao comentar o tema. "Os 80 são os novos 40, você não soube?", disse uma porta-voz —que poderia buscar inspiração em Ulysses na próxima vez.

editoriais@grupofolha.com.br

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