Um hábito se difundiu intensamente entre os brasileiros nos últimos anos: o uso dos aplicativos de mensagens instantâneas. Segundo a mais recente edição da pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box: Mensageria no Brasil, 99% dos smartphones no país contam com ao menos um desses programas, com 94% dos usuários utilizando-os todos os dias. Mas teriam esses serviços digitais também a capacidade de apoiar a capacitação profissional de adolescentes e jovens?
Um projeto desenvolvido pelo Espro (Ensino Social Profissionalizante) sinaliza que sim. Em meio à pandemia de Covid-19 e às limitações às experiências presenciais, a associação filantrópica desenvolveu em 2021 uma versão do seu curso Formação para o Mundo do Trabalho (FMT) para que fosse ministrada por meio do Telegram. Essa plataforma foi escolhida por permitir inscrições sem a necessidade de os jovens terem um número de celular, não limitar o número de participantes por grupo e ter baixo consumo de dados móveis, entre outros fatores.
Voltado à capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social, na faixa de 18 a 22 anos de idade, o curso por Telegram nasceu com foco em tecnologia, compartilhando conhecimentos sobre indústria 4.0, comunicação 4.0 e tecnologia da informação (TI). Também procura desenvolver, a exemplo dos cursos presenciais, competências e habilidades necessárias à inserção dos alunos no ambiente corporativo, bem como senso crítico, atitude empreendedora, autonomia e responsabilidade na vida comunitária.
A primeira turma teve início em dezembro de 2021, com 26 alunos. Em 2022, as turmas foram ampliadas e contaram com 510 participantes. Porém, o índice de evasão foi elevado, evidenciando o desafio que é a manutenção do envolvimento e da assiduidade nas iniciativas de ensino a distância. Entre os 200 alunos que concluíram o curso, 29 (14,5%) conquistaram seu primeiro emprego.
Em 2023, mesmo com a retomada dos cursos profissionalizantes presenciais, a versão pelo aplicativo foi mantida. Novas turmas tiveram 291 inscrições até setembro. Do total de alunos, 82 concluíram a jornada. O índice de empregabilidade, porém, saltou para 66%, com 54 jovens obtendo uma inserção profissional logo após o programa de capacitação.
Debates sobre metodologias de ensino costumam ser acalorados, e a educação remota não escapa a ressalvas. Contudo, a tecnologia não pode ser ignorada como instrumento potencial para a ampliação das oportunidades e a redução das desigualdades. Vale lembrar que, segundo recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 24,4% dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos estão sem acesso ao trabalho e sem acesso à educação, os chamados "sem-sem". A média entre os países membros da OCDE é quase dez pontos percentuais menor: 14,7%.
No Brasil, 85% da população de dez anos ou mais de idade –mais de 155 milhões de pessoas– tem um telefone celular para uso pessoal, segundo os mais recentes dados da PNAD Contínua do IBGE. Desse total, 94,8% têm acesso à internet pelo aparelho de telefone celular. Ou seja, a base tecnológica já existe. E os adolescentes e jovens podem ser incentivados a valer-se dela para a capacitação e a adoção de uma jornada contínua de desenvolvimento profissional e como cidadãos.
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