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Corrida ao dólar

Divisa dispara na Argentina, onde presidenciável promete renunciar ao peso

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Javier Milei, candidato ultraliberal à Presidência da Argentina - Luis Robayo/AFP

Agravou-se, nos últimos meses, a derrocada econômica argentina. A disparada do dólar e da inflação ganhou impulso extra após a ascensão do radical Javier Milei. O primeiro turno das eleições presidenciais ocorre em 22 de outubro, e o autodenominado anarcocapitalista lidera as pesquisas ao lado do governista Sergio Massa.

De fato, entre julho e agosto, a taxa mensal de inflação quase dobrou, de 6,3% para 12,4%. Nos 12 meses até agosto, a alta de preços atingiu 124%, a maior desde 1991. O banco central reage com atraso, tendo elevado a taxa de juros em pesos de 97% para 118% ao ano.

A razão de fundo para o descontrole é o financiamento dos gastos públicos por meio da emissão de moeda, crescente nos últimos anos.

Sem disposição para cortes profundos nas despesas, não há outra alternativa de financiamento do governo, já que a Argentina não dispõe de mercado local de dívida pública e já exauriu o acesso a novos financiamentos internacionais.

O esgotamento das reservas cambiais, aliás, foi o rastilho que acendeu a chama da desvalorização acelerada do peso. Em tom farsesco, o governo peronista se limita a instituir mais controles inócuos e a colocar a polícia nas ruas para combater o mercado paralelo do dólar.

A sensação de escalada da crise é real, portanto, na medida em que se aproximam as eleições. É certo, também, que a possibilidade de vitória de Milei e seus extremismos são outro fator de insegurança.

Sua plataforma é de ruptura geral com as instituições fiscal e monetária do país. Propostas pouco realistas no panorama político, como corte drástico de gastos, fim de subsídios e privatização em massa têm encontrado respaldo em parcela crescente do eleitorado.

Entre as promessas, a mais assustadora é o puro e simples fechamento do banco central, visto como inútil pelo candidato. Sem autoridade monetária, postula-se, haveria circulação de meios de pagamento concorrentes.

Na visão de Milei, os argentinos escolheriam a moeda de preferência, o dólar. O governo abriria mão de soberania em assuntos monetários e deixaria de contar com financiamento além da coleta de impostos, e estaria impossibilitado de manter déficit permanente.

Nenhum país de alguma dimensão optou por tal regresso a um primitivismo fiscal e monetário. O que se pode antever, sob qualquer resultado eleitoral, é mais instabilidade econômica e social.

editoriais@grupofolha.com.br

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